O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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O magnésio (Mg) é o quarto nutriente exigido em maior quantidade pelo cafeeiro e atua em diversos processos fisiológicos e bioquímicos críticos nas plantas. Sua deficiência leva à prejuízos no crescimento e na produção (CAKMAK; YAZICI, 2010).
A função do Mg como átomo central da molécula de clorofila é a função mais bem conhecida e documentada desse nutriente na planta. O desenvolvimento de clorose foliar, tipicamente internerval, é associado à deficiência do Mg. Caso o suprimento não seja restabelecido, a deficiência caminha no sentido da extremidade do ramo, pois o nutriente se movimenta das folhas mais velhas para as folhas mais novas, mostrando na prática sua a mobilidade.
O Mg exerce grande influência sobre a fotofosforilação (como a formação de ATP nos cloroplastos); fixação fotossintética do CO2; síntese proteica; formação de clorofila; geração de espécies reativas de oxigênio (EROs), fotooxidação nos tecidos foliares e particionamento de massa seca e de carboidratos entre parte aérea e raízes. Uma das primeiras reações do estresse por deficiência de Mg é o aumento na razão parte área/raiz, o qual está associado ao acúmulo expressivo de carboidratos em folhas (fonte), especialmente de sacarose e amido. O elevado acúmulo de carboidratos nas folhas deficientes em Mg, acompanhado pelo aumento na razão parte aérea/raiz, são indicativos de severa inibição na exportação de fotoassimilados (açúcares) no floema, prejudicando drasticamente o desenvolvimento do sistema radicular (CAKMAK; YAZICI, 2010; CAKMAK; KIRKBY, 2008).
No primeiro estágio da deficiência de Mg, a exportação de sacarose no floema é severamente inibida. Esse efeito ocorre antes de quaisquer alterações no crescimento da parte aérea, na concentração de clorofila ou na atividade fotossintética. O reabastecimento do Mg em plantas deficientes resulta em rápida recuperação da exportação de sacarose das fontes para os drenos (CAKMAK; KIRKBY, 2008). Em adição, as plantas respondem ao estresse por deficiência de Mg com acentuado aumento na capacidade antioxidante das folhas, especialmente sob alta intensidade de luz (CAKMAK; MARSCHNER, 1992). A formação de EROs é, portanto, estimulada pela deficiência de Mg nos cloroplastos. Assim, plantas deficientes em Mg são mais susceptíveis à danos fotooxidativos, pois a deficiência do nutriente inibe o carregamento de carboidratos via floema, induzindo ao acúmulo, principalmente, de sacarose nas folhas e à inibição da fixação de CO2. Isso pode resultar em excessiva redução na cadeia de transporte de elétrons e potencializar a geração de EROs, principalmente sob alta intensidade de luz, favorecendo dessa forma o aparecimento de sintomas de escaldadura (CAKMAK; KIRKBY, 2008).
Deficiências de Mg são comumente observadas em lavouras cafeeiras. A avaliação da fertilidade do solo em lavouras irrigadas do oeste baiano com diferentes níveis de produtividade demonstrou que, em 100% dos talhões de baixa produtividade, os teores de Mg estavam abaixo das concentrações adequadas cafeeiros (ALMEIDA; LIMA; AMARAL, 2006). Resultados de análises de solos e folhas de amostras recebidas no Laboratório de Análises da Fundação Procafé (Varginha-MG) oriundas de diversas regiões cafeeiras também confirmam que o Mg constitui o nutriente mais em falta nas lavouras cafeeiras, verificando-se níveis baixos do nutriente tanto no solo quanto nas plantas.
O problema do desequilíbrio do Mg com o potássio (K) tem sido muito frequente e associado ao uso de doses constantes e elevadas de adubos potássicos sem a aplicação de Mg, como o 20-00-20, 20-05-20 e 25-00-25. Em lavouras cafeeiras no oeste baiano, a elevada deficiência de Mg é acompanhada por teores excessivos de K no solo (ALMEIDA; LIMA; AMARAL, 2006). Observamos teores elevados de K em 63% de cerca de 70 mil análises de solo e folhas de diversas regiões cafeeiras de Minas Gerais (MegaLab 2019), mostrando ser esse o principal fator que causa a deficiência de Mg em solos cafeeiros. A competição entre esses nutrientes ocorre na CTC, absorção e translocação. O cálcio (Ca), o Mg e o K competem por sítios de absorção nas raízes, e o excesso de um pode inibir, por antagonismo, a absorção do outro (MALAVOLTA, 1996).
Desta forma, a realização periódica de análises de solo e folhas é essencial para a manutenção do equilíbrio nutricional. Caso os teores de K estejam altos, deve-se optar por formulações com menores concentrações desse nutriente e de preferência que contenham Mg em sua composição, além da realização da calagem de forma adequada e com o corretivo correto. O complemento com fontes solúveis de Mg também é indicado.
Para mais informações sobre o assunto, acesse a tese do autor - NUTRIÇÃO, BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DE CAFEEIROS SUPRIMIDOS COM MAGNÉSIO
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