O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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A produção do cafeeiro tem início com o florescimento em setembro/outubro e se dá na porção dos ramos plagiotrópicos que cresceram na estação anterior. Com o passar dos anos, a produção de café desloca-se para as extremidades dos ramos, uma vez que porções que já produziram não produzem mais (Foto 1). Este fato é mais evidente do lado da planta que recebe sol à tarde e, de maneira geral, nos ramos baixeiros. Em lavouras com livre crescimento é comum encontrar, nos terços médio e inferior dos cafeeiros, ramos muito longos, sem folhas, principalmente as mais internas, sem ramificações e com apenas alguns poucos nós apicais em produção (Figura 1a). A falta de ramificações secundárias ao logo do ramo plagiotrópico se deve a um fenômeno conhecido como dominância apical devido ao hormônio auxina, que em altas concentrações inibe o crescimento das gemas laterais e, por conta disso, a formação dos ramos laterais. Apesar do baixo potencial produtivo dessas áreas das plantas, o ponteiro ou terço superior, na maioria das vezes, expressa uma boa expectativa de produção por apresentar ramos com muitos nós abotoados, que na colheita podem render até 25 sacas/ha (Figura 1a no destaque). Para corrigir o problema, uma das opções frequentemente adotada é o desponte ou esqueletamento dos ramos ao longo dos três terços da planta. Esta prática, na maioria das vezes, desestimula o cafeicultor a podar as plantas, e quando ela é feita, invariavelmente, leva a perda da produção dos ponteiros.
Neste artigo, queremos chamar a atenção para um sistema de poda ainda não muito difundido, mas que tem dado resultados muito satisfatórios onde é empregado, uma vez que, dentre outras vantagens, corrige o problema da perda da produção dos ponteiros no ano seguinte à poda. Trata-se da “Poda Parcial do Arbusto” ou simplesmente PPA. Resumidamente, a PPA consiste em cortar, logo após a colheita, as extremidades de todos os ramos plagiotrópicos presentes nos terços médio e inferior da planta, preservando intactos os ramos do ponteiro em cujos nós encontram-se gemas reprodutivas ou botões florais (Figura 1be Foto 2). Esse corte deve ser feito na porção do ramo onde o crescimento ficou comprometido, caracterizado principalmente por apresentar internódios curtos e em pequeno número ou que não se observam gemas reprodutivas visíveis ou botões florais, seca de ponteiros, escaldadura, devidos a problemas bióticos ou abióticos (Figura 1c).
Como toda poda, a PPA promove a emissão de ramificações recuperando o enfolhamento dos ramos podados em níveis muito superiores ao que era antes ou por outros sistemas de poda. Desse modo, a retirada das gemas apicais, em função do corte dos ramos, quebra a dominância apical e força as gemas laterais a saírem do estado de dormência, dando origem a novos ramos, flores e frutos, que é o objetivo da poda. A diferença deste sistema para os outros tipos é que, não se fazendo o decote da haste principal, preserva-se o potencial produtivo da região do ponteiro que ficou intacta, e que, tal como comentado acima, pode chegar à 25 sacas/ha na primeira produção pós-poda (Figura 1d). A manutenção do ponteiro enfolhado e, por conseguinte, a gema apical presente no ápice do caule ortotrópico impõe uma forte dominância apical que restringe o crescimento de ramos ladrões ao longo do tronco principal. Essa é, sem dúvida alguma, uma vantagem econômica da PPA, uma vez que desonera o cafeicultor de fazer a desbrota, uma operação cara, demorada e de difícil execução. Na safra do segundo ano, a produção se dá em toda a copa do cafeeiro (Figura 1e). Como o cafeeiro é muito responsivo a PPA, rapidamente a copa retorna o seu formato aproximadamente cônico com o novo e vigoroso enfolhamento e com uma distribuição da produção em toda a extensão da planta, inclusive na região da saia (Figura 1e e Foto 3).
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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