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09/09/2019
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José Donizeti Alves
Poda Parcial do Arbusto - PPA: um novo conceito de poda

A produção do cafeeiro tem início com o florescimento em setembro/outubro e se dá na porção dos ramos plagiotrópicos que cresceram na estação anterior. Com o passar dos anos, a produção de café desloca-se para as extremidades dos ramos, uma vez que porções que já produziram não produzem mais (Foto 1). Este fato é mais evidente do lado da planta que recebe sol à tarde e, de maneira geral, nos ramos baixeiros. Em lavouras com livre crescimento é comum encontrar, nos terços médio e inferior dos cafeeiros, ramos muito longos, sem folhas, principalmente as mais internas, sem ramificações e com apenas alguns poucos nós apicais em produção (Figura 1a). A falta de ramificações secundárias ao logo do ramo plagiotrópico se deve a um fenômeno conhecido como dominância apical devido ao hormônio auxina, que em altas concentrações inibe o crescimento das gemas laterais e, por conta disso, a formação dos ramos laterais. Apesar do baixo potencial produtivo dessas áreas das plantas, o ponteiro ou terço superior, na maioria das vezes, expressa uma boa expectativa de produção por apresentar ramos com muitos nós abotoados, que na colheita podem render até 25 sacas/ha (Figura 1a no destaque). Para corrigir o problema, uma das opções frequentemente adotada é o desponte ou esqueletamento dos ramos ao longo dos três terços da planta. Esta prática, na maioria das vezes, desestimula o cafeicultor a podar as plantas, e quando ela é feita, invariavelmente, leva a perda da produção dos ponteiros.  

Neste artigo, queremos chamar a atenção para um sistema de poda ainda não muito difundido, mas que tem dado resultados muito satisfatórios onde é empregado, uma vez que, dentre outras vantagens, corrige o problema da perda da produção dos ponteiros no ano seguinte à poda. Trata-se da “Poda Parcial do Arbusto” ou simplesmente PPA. Resumidamente, a PPA consiste em cortar, logo após a colheita, as extremidades de todos os ramos plagiotrópicos presentes nos terços médio e inferior da planta, preservando intactos os ramos do ponteiro em cujos nós encontram-se gemas reprodutivas ou botões florais (Figura 1be Foto 2). Esse corte deve ser feito na porção do ramo onde o crescimento ficou comprometido, caracterizado principalmente por apresentar internódios curtos e em pequeno número ou que não se observam gemas reprodutivas visíveis ou botões florais, seca de ponteiros, escaldadura, devidos a problemas bióticos ou abióticos (Figura 1c).

Como toda poda, a PPA promove a emissão de ramificações recuperando o enfolhamento dos ramos podados em níveis muito superiores ao que era antes ou por outros sistemas de poda. Desse modo, a retirada das gemas apicais, em função do corte dos ramos, quebra a dominância apical e força as gemas laterais a saírem do estado de dormência, dando origem a novos ramos, flores e frutos, que é o objetivo da poda. A diferença deste sistema para os outros tipos é que, não se fazendo o decote da haste principal, preserva-se o potencial produtivo da região do ponteiro que ficou intacta, e que, tal como comentado acima, pode chegar à 25 sacas/ha na primeira produção pós-poda (Figura 1d). A manutenção do ponteiro enfolhado e, por conseguinte, a gema apical presente no ápice do caule ortotrópico impõe uma forte dominância apical que restringe o crescimento de ramos ladrões ao longo do tronco principal. Essa é, sem dúvida alguma, uma vantagem econômica da PPA, uma vez que desonera o cafeicultor de fazer a desbrota, uma operação cara, demorada e de difícil execução. Na safra do segundo ano, a produção se dá em toda a copa do cafeeiro (Figura 1e). Como o cafeeiro é muito responsivo a PPA, rapidamente a copa retorna o seu formato aproximadamente cônico com o novo e vigoroso enfolhamento e com uma distribuição da produção em toda a extensão da planta, inclusive na região da saia (Figura 1e e Foto 3).




Figura 1. a) Cafeeiros com restrição produtiva e, no círculo em destaque, a região do ponteiro com gemas/botões florais ao longo de todo os ramos; b) corte dos ramos presentes nos terços médio e inferior, preservando a região do ponteiro (PPA); c) ramos após a PPA; d) produção concentrada no ponteiro no 1º ano pós-poda; e) retomada do potencial produtivo em toda a extensão da copa 2 anos pós-poda.

Considerações gerais sobre a PPA: 
a) Manutenção da produção do ponteiro no primeiro ano após PPA;
b) Recuperação do potencial produtivo de toda a copa do cafeeiro ao segundo ano após PPA;
c) Periodicidade de dois anos para uma nova PPA;
d) É adequada para lavouras que perderam seu potencial produtivo e cuja produção vindoura encontra-se restrita à região do ponteiro;
e) É um sistema adequado para lavouras que não perderam a saia, uma vez que recompõe a copa ao longo de todo o eixo ortotrópico;
f) Lavouras adensadas aceitam muito bem esse tipo de poda;
g) É recomendado para lavouras vigorosas em termos vegetativos, mas que perderam parte do potencial produtivo nas fases finais do ciclo;
h) Não é recomendado para lavouras muito altas devido à problemas na colheita do ponteiro;
i) É um sistema de baixo custo, pois além de dispensar o manejo dos galhos podados, não requer desbrotas;
j) Recomenda-se um bom manejo nutricional na pós-poda para que o cafeeiro expresse todo seu potencial vegetativo;
k) Fazer a PPA logo após a colheita ou antes do início das chuvas para que a planta possa reequilibrar rapidamente sua energia de forma a garantir a produção do ponteiro e revegetação;
l) Alternativamente, a PPA pode ser feita antes da varrição, pois é baixo o volume de resíduos podados.

    Foto 1.  Lavoura antes da PPA                                    Foto 2. Lavoura após a PPA

Em destaque potencial produtivo dos ponteiros


 Foto 3. Lavouras  no primeiro ano após a PPA

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