O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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As duas primeiras perguntas valem 1 milhão de dólares dado as dificuldades de respondê-las, mas temos algumas pistas.
O ano agrícola 2019/2020 começou com seca prolongada que desfolhou muitas lavouras. No entanto, o lado benéfico dessa seca foi que concentrou a florada. Tivemos, em outubro de 2019, uma florada concentrada nos moldes daquela que tivemos em 2017, que culminou com uma super safra em 2018. A partir daí, até dezembro, tivemos períodos intercalados de chuva e seca com temperaturas extremamente altas em todo o período. Esse calor intenso prejudicou muitas lavouras, causando abortamento de flores e queda de chumbinhos.
De janeiro desse ano até os dias atuais, as regiões cafeeiras do Brasil têm experimentado um alto volume de chuvas, sem precedentes na história. Normalmente, associa-se estresse hídrico a falta d’água, mas o excesso também prejudica, em muito, o café. Em decorrência dessas alterações, uma gama de sintomas de desordens nutricionais, fitossanitárias, fisiológicas e físicas começaram a aparecer.
Apesar de todos esses problemas, muitas lavouras estão vigorosas, até mesmo porque saímos de uma safra baixa no ano passado, e, portanto, sendo esse ano de safra cheia, é de se esperar no mínimo um aumento natural da produção de 10 a 15%. Isso por si só deve elevar a safra para 55 a 58 milhões de sacas. Além do mais, um grande percentual de lavouras em safra zero estão programadas para produzir bem esse ano, e muitas lavouras jovens devem entrar em produção de primeiro ano. No conjunto, associado a uma melhoria constante do pacote tecnológico cafeeiro, da profissionalização dos cafeicultores e de uma assistência técnica muito qualificada que deve refletir em aumentos na produtividade, é lícito supor que a safra a ser colhida em 2020 deve girar em torno de 58 a 60 milhões de sacas, aí já considerando as lavouras depauperadas por conta da altas temperaturas. Em um cenário otimista, devido à alta resiliência do cafeeiro, a produção pode, ainda que difícil, aproximar da safra 2018. O que me preocupa no momento é a continuidade das chuvas que, além de todos os problemas nutricionais, fisiológicos, físicos e sanitários que trazem, podem impedir os tratos culturais e, com isso, uma queda naqueles números.
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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