Um refúgio para suprimento seguro
As safras de café arábica, nos principais cinturões de
produção no Brasil, tem sido afetada pela recorrência de distúrbios climáticos.
Estiagens durante o período chuvoso associadas a elevadas temperaturas médias,
períodos secos mais elásticos que o historicamente registrado e a incidência de
geadas, promoveram danos fisiológicos às plantas que repercutem sobre o
potencial produtivo dos arbustos.
Ainda que a mais adiantada tecnologia
agronômica venha sendo empregada, visando diminuir a amplitude variação entre
os ciclos de alta e de baixa da lavoura, os distúrbios climáticos das
temporadas de 2021 e de 2022 pressionaram a produção, acarretando ao acúmulo de
dois ciclos de baixa consecutivos1.
Lavouras plantadas em 2018 e 2019 que
teriam, em 2022, primeira safra comercial e primeira catação, ainda não
produziram, impactadas que foram pelas rudezas do clima. Outras lavouras
esqueletadas em 2020 e em 2021, também, exibem baixo potencial produtivo,
quando o esperado seria elevado rendimento após tratamento de recuperação da
copa.
Os déficits hídricos registrados até a
primeira quinzena de setembro nos principais cinturões de produção de arábica
impõem prejuízos produtivos para safra vindoura. Patamares de déficit acima de
250mm, por exemplo, foram contabilizados no Sul de Minas, região em que a
irrigação de cafezais é quase que uma exceção. Desponte de floradas que
ocorreram devem resultar em massivo abortamento.
Soma-se a esse contexto de carestia produtiva
o aumento mundial dos custos de produção, derivados das cotações para a
aquisição dos principais insumos empregados na lavoura (especialmente: diesel,
fertilizantes e agrotóxicos). Sob pressão de custos, muitos cafeicultores
decidem, erroneamente, em reduzir a aplicação de tecnologia em suas lavouras
que embora diminua os custos por hectare ampliam-no por saca colhida.
Outros países competidores do Brasil no fluxo de suprimento global, também, exibem baixa disponibilidade do produto, amplificando o quadro de escassez de oferta que se depara com tendência, histórica, de aumento da demanda, em situação que os estoques (certificados e demais2) estão em permanente baixa (Figura 1).
FIGURA 1 – Evolução do consumo de café, 1990-2022 / Fonte: Elaborado a partir de dados da OIC, 20222
No mercado de ativos financeiros, transacionados em bolsa de valores, as commodities agrícolas são vedetes em razão da valorização observada, ainda que pesem as perspectivas de aprofundamento da recessão mundial desencadeada pelas autoridades monetárias, para fazer frente a escalada inflacionária que assola todos os continentes. Sem opções para o investimento a valorização patrimonial encontra no mercado de commodities agrícolas um refúgio. Paralelamente, a arrasadora derrocada das cotações nos mercados de criptomoedas, refundou entre os investidores a busca pela tangibilidade, ou seja, privilegiar no destino de suas aplicações produtos com efetiva materialidade o que, consequentemente, traz sustentação aos preços.
Esse cenário de escassez também repercute no mercado interno. Dados contabilizados pelo IEA, para o café torrado e moído no varejo da cidade de São Paulo (pct 500gr), evidencia elevação de 112% entre janeiro de 2021 a agosto de 2022 (Figura 2). Ainda que o produto exiba elevada inelasticidade preço, não se deve ser demasiadamente otimista com o crescimento da demanda doméstica, ou seja, o mercado não encolherá, mas sua expansão deve ser apenas marginal.