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16/04/2020
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José Donizeti Alves
A revolução silenciosa nos cafeeiros

Estamos em meados de abril. Em muitas lavouras, naturalmente, dado a precocidade das variedades, ou artificialmente pelo uso de indutores de maturação, o verde dos frutos está sendo substituído, gradativamente, pelo vermelho ou amarelo, enquanto que em outras, compostas de variedades com maturação tardia ou pelo uso de retardadores do amadurecimento, o processo nem começou. Mas o que se sabe é que, em breve, a colheita vai iniciar e já se pode ouvir nos campos o burburinho de uma das etapas mais movimentadas na arte de fazer café. 

Indiferente aos preparativos da colheita, uma revolução silenciosa está ocorrendo nas axilas das folhas, em seções de ramos que cresceram na estação passada, onde gemas indiferenciadas, imperceptíveis aos olhos, passam pelo triplo processo de indução/ iniciação /diferenciação. É nessa etapa que começa o florescimento do cafeeiro, que só terminará na primavera deste mesmo ano com o florescimento, antese ou abertura das flores. É um momento ímpar da fase de reprodução do cafeeiro, pois é agora, neste outono de 2020, que se define o tamanho potencial da florada, da frutificação e da safra que vamos colher em 2021*.  Enquanto isso, paralelamente à essas fases, as gemas que foram induzidas no outono passado renderam frutos que estão se desenvolvendo e competindo por carbono, energia e minerais com o processo inicial de florescimento.

O mecanismo indutivo de iniciação floral ainda não está totalmente esclarecido no cafeeiro. O que existem são evidências circunstanciais que nos dão algumas pistas de que a mudança da fase vegetativa para a reprodutiva é promovida por fatores bioquímicos e fisiológicos relacionados ao clima. A literatura destaca os seguintes fatores que podem afetar a iniciação floral do cafeeiro: transição do período chuvoso para o seco, água na planta e solo, temperaturas amenas (24ºC dia/19ºC noite), aumento da amplitude térmica influenciada pela redução das temperaturas mínimas (noites frias), maior disponibilidade de carboidratos, restrição do crescimento vegetativo dos ramos que sofrem competição pelo enchimento e granação dos frutos, altos níveos de giberelinas nas gemas indeterminadas, baixa relação N/C, copa enfolhada, nutrição mineral equilibrada, plantas livres de pragas e doenças, entre outros.  

Normalmente, a interação clima x iniciação floral começa a partir da segunda quinzena de março, com a entrada do período seco e com a temperatura e luminosidade caindo. Esses eventos ambientais paralisam o metabolismo das folhas e o transporte de carbono (energia) para os ramos. Essa queda temporária no nível de carboidratos nas gemas indeterminadas parece ser o sinal bioquímico que, disparado pelo clima, faz com que elas adquiram competência e passem a ter o status de gemas reprodutivas. Ou seja, é neste momento que as gemas que não “sabiam” o que queriam ser quando crescer “escolhem” o caminho da produção em detrimento da vegetação. Chuvas esparsas seguidas por longos períodos secos, calor durante o dia (25 a 28 ºC) e frio ameno à noite (15 a 17 ºC) favorecem a transição para o estado reprodutivo das gemas.

*A floração do cafeeiro se dá em cada nó da porção do ramo plagiotrópico que cresceu na estação de crescimento passada. Na axila de cada folha desenvolvem-se cerca de cinco gemas que darão origem, cada uma, a quatro flores em glomérulos e, na sequência, a quatro frutos de tal forma que, em cada nó, é possível observar no máximo 40 frutos e, muito raramente, um pouco mais. Portanto, 40 frutos em cada roseta representa o potencial máximo de produção do cafeeiro denominado de rendimento teórico. 


Estamos numa importante fase fenológica para o cafeeiro. Enquanto os grãos desta safra estão na reta final, a florada da próxima se inicia agora. Aquelas lavouras que receberam corretamente todos os cuidados, principalmente nutrição e controles fitossanitários, terão reservas suficientes para que as gemas iniciem seu desenvolvimento, garantindo assim os grãos da próxima safra. Fomos contemplados com um presente do nosso colunista prof. José Donizeti, pois este conteúdo esclarece perfeitamente o que está acontecendo com a planta nesse momento especial, afirma Guy.

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