O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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O Brasil possui 1,811 milhões de hectares de café arábica, com a produção estimada para safra agrícola 2022/2023 de 37,9 milhões de sacas de 60 kg de C. arabica (Conab, 2023). Sendo assim, segundo a Embrapa, 39,3% do total de Coffea arábica colhido em nível mundial é produzido por lavouras brasileiras, fazendo do país o maior produtor desse produto.
A florada é a fase fenológica mais vulnerável ao stress climático, podendo ocorrer perdas expressivas em produtividade a depender das condições climáticas. Essas perdas são causadas principalmente por déficit hídrico acentuado e/ou precipitação insuficiente no período da florada do cafeeiro.
Segundo o pesquisador Matiello, onde cita no Manual de Recomendações, focado na cultura do café, o crescimento e a abertura dos botões do cafeeiro (floração) estão relacionados com a umidade ocasionada pelas chuvas ou irrigação. Após a diferenciação, os botões permanecem dormentes até que haja um período seco, seguido de chuva, para então continuarem rapidamente o crescimento, até a sua abertura em flores normais, o que ocorre em cerca de 10 dias.
Ainda com base no manual de recomendações para o café, uma situação anormal pode acontecer quando uma chuva de baixa intensidade (5 a 15 mm) ocorrer após um período onde o solo e clima se apresentam muito secos. Nessa condição, com pouca água, ocorrem os botões chamados de “grão de arroz” (figuras 1 e 2). Eles são estimulados a crescer pelo diferencial hídrico ocorrido, porém a pouca água não é suficiente para o seu desenvolvimento completo e abertura. Então esses botões ficam amarelecidos e caem, sem abrir em flores
Esse fenômeno de abortamento do botão floral, a depender da intensidade, causa elevado dano ao potencial produtivo da lavoura cafeeira, o que pode comprometer por completo a safra esperada.
Com o uso da irrigação, existem algumas estratégias a serem adotadas para evitar os danos decorrentes da condição fisiológica descrita acima. Elas podem ser adotadas desde que o projeto seja corretamente dimensionado e apresente boa uniformidade de aplicação. Além disso, é fundamental que o manejo da irrigação seja orientado por um profissional agronômico experiente em irrigação, que conheça o solo e demais aspectos técnicos da lavoura.
Veremos duas estratégias a seguir:
Estratégia 1 - No período da seca, conduzindo com uma lâmina reduzida (50% da evapotranspiração – perdas de água por evaporação do solo para atmosfera e pela transpiração da planta), caso ocorra uma baixa precipitação, é possível completar a lâmina (umidade do solo) ideal para abrir a florada do cafeeiro de forma segura. Para tal, é necessário ter uma vazão suficiente ou um reservatório corretamente dimensionado. Dessa forma, abrirá uma florada exuberante, não ocorrendo a formação dos botões “grãos de arroz”. A florada utilizando esse manejo pode ser observada na figura 3.
Estratégia 2 - Com o uso de sensores como tensiômetros e/ou sonda volumétrica (Netacap) e dados climáticos, é possível manter a umidade do solo em capacidade de campo durante o período de reduzida precipitação (que historicamente ocorre de maio a agosto nas principais regiões de C. arábica), para assim assegurar que a lavoura permaneça hidratada, ou seja, sem stress hídrico. Dessa forma, mesmo com precipitação reduzida, a mudança de temperatura e umidade relativa do ar ocasionadas pela chuva serão suficientes para abrir a florada. Esse manejo é mais econômico em água, sendo muito indicado para propriedades com pouca disponibilidade desse recurso. A florada utilizando essa estratégia pode ser observada na figura 4.
Foram citadas duas estratégias, porém outras podem ser adotadas, desde que orientadas por um profissional experiente.
Com relação à deficiência hídrica, as regiões brasileiras são classificadas segundo a tabela 1:
Apesar da imensa maioria das lavouras estarem localizadas em regiões classificadas como aptas, é observado que, mesmo nesses locais, há incremento expressivo em produtividade com o uso da irrigação.
Em trabalho de pesquisa realizado pelo Fundação Procafé em Varginha – MG (região apta), foi constatado aumento médio de 17,7 sacas (Tabela 2).
No experimento realizado pela mesma instituição, no município de Franca – SP (região apta), nas safras de 2021 e 2022, foi constatado aumento médio de 34,3 sacas por hectare para cultivar de porte alto (Mundo Novo 379/19) e 38,6 sacas por hectare para porte baixo (Catuaí IAC 62) conforme tabela 3. Ou seja, a irrigação possibilitou a expressão do potencial produtivo de ambas cultivares. É importante destacar que o local de realização desse trabalho é um solo que apresenta uma baixa retenção de água, algo muito comum para essa região.
Ressalta-se que a irrigação localizada por gotejamento é a maneira mais eficaz para o cafeicultor irrigar suas lavouras, obtendo economia de água e energia. Por meio desse sistema, ainda é possível fertirrigar, fornecendo água e nutrientes diretamente às raízes de seu cafezal, reduzindo desperdícios e potencializando os ganhos.
Conclui-se que, mesmo em regiões aptas, a irrigação corretamente manejada reduz risco climático decorrente da seca, garantindo o bom pegamento da florada do cafeeiro, resultando em segurança ao produtor.
Por Rafael Gonzaga, Especialista Agronômico da Netafim Brasil
Sobre a Netafim: Fundada em um pequeno kibbutz em Israel há mais de 50 anos, a Netafim é pioneira e líder mundial em soluções para irrigação. Com atuação em mais de 110 países, chegou ao Brasil na década de 1990, com um portfólio completo de produtos e soluções inovadoras de irrigação por gotejamento, que visam contribuir com o eficiente uso da água, aumentando a produtividade na agricultura e trazendo mais tranquilidade ao produtor rural
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