O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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A maior parte da cafeicultura no Brasil é montanhosa, com abrangência de área com cerca de 700 mil ha de cafezais e uma produção estimada anual de 13-15 milhões de sacas. Devido a topografia inclinada dessas áreas, apresenta limitações para a mecanização de modo convencional, elevando os custos de produção do café por conta da necessidade de uso de mão de obra, que hoje está escassa e cara, nos tratos e na colheita das lavouras.
Na tentativa de driblar a declividade de terrenos montanhosos, o micro-terraceamento nas ruas dos cafezais tem sido uma boa alternativa a fim de facilitar os tratos, tentando formar um caminho mais plano nas ruas, semelhante a uma estrada estreita entre 2 linhas de cafeeiros, permitindo assim o trânsito de tratores estreitos com equipamentos para os tratos.
A prática de micro-terracear tem despertado grande interesse nos cafeicultores devido a facilidade que oferece. Diante disso, sua adoção vem crescendo e sendo aperfeiçoada no sentido de torná-la mais econômica. Além disso, mesmo quando a colheita é realizada de forma manual ou semimecanizada com derriçadeiras portáteis, oferece melhor condição de trabalho, pois permite que a colheita do café seja realizada em terreno plano, facilitando a operação.
O terraceamento também atua na conservação e preservação do solo, pois mantem a estrutura evitando perda de nutrientes pela erosão e facilitando a infiltração da água. Outra vantagem do terraceamento é o combate a erosão baseada na implantação de terraços que objetivam controlar o volume de escoamento das águas da chuva. Essa é uma prática que deve ser associada a outras práticas de manejo do solo, como por exemplo cobertura do solo com palhada, calagem e adubação equilibrada, rotação de cultura com plantas de cobertura e cultivo em nível.
O terraço tem uma estrutura transversal no sentido do maior declive do terreno, sendo composta de um dique e um canal, retendo e infiltrando nos terraços a água da chuva (BRSCAN, 2016). As características da chuva (quantidade, duração e intensidade); da paisagem (comprimento da rampa, rugosidade do terreno, profundidade e permeabilidade do solo); e práticas de manejo agrícola (mato nas entrelinhas e leiras vegetacionais) são fatores que determinam a distribuição dos terraços (WADT, 2004).
Atualmente, já se tem disponíveis 5 sistemas ou modos de construir os micro-terraços em cafezais, sendo eles:
1) O método inicial utiliza tratores traçados, operando de marcha à ré, com lâmina traseira, apresentando a desvantagem de custo elevado e de risco operacional, estimando-se um rendimento de 30- 40 h de serviço por ha, ou o equivalente a cerca de R$3.000,00 a R$4.000,00 por ha.
2) Experiências também com máquina tipo BobCat de esteira, com concha escavadeira e lâmina dianteira, para acerto do terraço. Nesse caso, podem ser abertos cerca de 1,5m de terraço por minuto, ou o equivalente a cerca de 35-40 hs por ha, ao custo de cerca de R$3.500,00 – R$5.000,00 por ha.
3) Trabalho com pequenos tratores de esteira, com lâmina dianteira, especialmente tratores estreitos importados, fazendo um ha em 15-20 hs, ou cerca de R$2.000,00 – R$2.700,00 por ha.
4) Viabilidade de uso de tração animal na abertura dos micro-terraços, sistema mais econômico e acessível a pequenos produtores, trabalhando com arado no revolvimento da terra e pequena lâmina adaptada para retirar a terra e plainar o terraço. O rendimento observado é de 4 dias de trabalho por ha, com custo aproximado de R$600,00 por ha.
5) Abertura manual de micro-terraços, com trabalhadores munidos de enxadão e enxadas. Em experiência realizada em 8 ha, foram gastos 25 hd/ha ou cerca de R$1.300,00 por ha. Na evolução do micro-terraceamento, destacamos o emprego de tratores de esteira, mais estreitos na abertura, o que dá bom rendimento ao trabalho, existindo atualmente empresas prestadoras desse serviço. A viabilidade do terraceamento com tração animal, em pequenas propriedades, ainda, o uso de trator andando nos terraços, operando colhedeiras de galhos esqueletados e o desenvolvimento de equipamentos colhedores para tratores pequenos.
Pode-se usar também o terraceamento em linhas duplas ou a cada 3-4 ruas. Para um bom trabalho, possibilitando a abertura de terraços com 1,30-1,50 m de largura, é recomendável usar espaçamentos nas ruas das lavouras na base de 2,5-3,0 m, com o serviço sendo facilitado após podas.
O micro-terraceamento, com operação do trator munido de lâmina traseira e operando de marcha a ré, é técnica e economicamente viável. Ele possibilita maior facilidade na execução de tratos mecanizados da lavoura, melhora a infiltração de água no solo, controla a erosão e, assim, se torna uma prática ambientalmente adequada que, juntamente com a melhoria econômica pela redução dos custos dos tratos, permite maior sustentabilidade da cafeicultura de montanha.
Fonte:
MATIELLO, J. B.; CARVALHO, M. L.; SIQUEIRA, H. Modos de fazer micro-terraços em cafezais de montanha. Disponível em: http://www.sbicafe.ufv.br/bitstream/handle/123456789/7207/64_41-CBPC-2015.pdf?sequence=1&isAllowed=y
BRSCAN, I. M. Animação mostra, passo a passo, como realizar um terraceamento com curva de nível. Brasília: Portal Embrapa, 19 abr. 2016. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/11733925/animacao-mostra-passo-a-passo-como-realizar-um-terraceamento-com-curva-de-nivel.
WADT, P. G. S. Construção de terraços para controle da erosão pluvial no estado do Acre. Rio Branco: Embrapa Acre, 2004. 44 p. il. color. (Embrapa acre. Documentos, 85). Disponível em:
FERREIRA, C. C.; JAEGGI, M. E. P.; MOREIRA, T. B. R.; SOUZA, M. N.; RODRIGUES, D. D.; FONSECA, R. A.; ZAMPIERI, F. G.; MOREIRA, C. G.; ZACARIAS, A. J.; SOUZA, I. I. M. Cafeicultura: Recuperação de áreas degradadas e uso de práticas agroecológicas no manejo do café em região de montanhas. Capítulo 3, disponível em: https://www.meridapublishers.com/l7topicos/l7capitulo3.pdf
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