O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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As recentes previsões meteorológicas estão alertando sobre a passagem de uma massa de ar frio e até mesmo a possibilidade de geadas na Alta Mogiana, Cerrado Mineiro e Sul de Minas Gerais. Independentemente do acerto ou não dessas previsões, (já que são previsões) o cafeicultor deve se precaver para evitar ou amenizar os danos. Em vista disso, muitos recorrem a formação de fumaça (com a queima de pneus, serragem e outros materiais) e nebulizações para proteger as plantas. Infelizmente, essas estratégias têm uma pequena probabilidade de sucesso pois a eficiência desses métodos no combate direto às geadas depende fundamentalmente das condições ambientes no momento da aplicação. Dado ao tamanho da imprevisibilidade, bons resultados são muito difíceis de serem alcançados.
Como sempre gosto de alertar, antes de atuar, é preciso conhecer as causas para aumentar as chances de sucesso em todas nossas ações. Resumidamente, já que esse assunto já foi objeto de outras publicações que fizemos nesse mesmo canal, os danos provocados pelas geadas se devem a (a) expansão da seiva congelada, que literalmente estoura as células, ou pela (b) perfuração as células pelos cristais de gelo que se formaram durante o congelamento da seiva. Então uma maneira eficiente de combate a geada é atuar na causa, cortando o mal no seu início, ou seja, evitar que os líquidos se congelem no interior das plantas, principalmente as folhas. Para fazer isso, é preciso abaixar o ponto de congelamento da água dentro dos tecidos vegetais, utilizando-se de meios que concentrem a seiva da planta. Duas estratégias eficientes são: (i) suspender a irrigação dias antes da geada e (ii) pulverização com sais, principalmente os de potássio. Essas ações, ao abaixar o potencial hídrico e osmótico das células, impondo um déficit hídrico moderado no cafeeiro, mantém os tecidos parcialmente desidratados, concentrando os solutos na solução. Desse modo, menores temperaturas serão necessárias para solidificar a água e formar os perigosos cristais de gelo. Resumindo, o segredo é não diluir a seiva, afastando ligeiramente o solo da capacidade de campo para diminui a água disponível para as plantas.
É importante acrescentar que diversos estudos têm mostrado, em outras frutíferas, que é possível amenizar as perdas pela geada ao acionar a irrigação por aspersão quando a temperatura cai a poucos graus do congelamento. Nesse caso, a água depositada na superfície do vegetal será congelada e ao se manter a 0°C, forma uma película protetora das plantas, evitando o congelamento dos líquidos internos, posto que a energia que seria gasta para congelar a folha é gasta para congelar a água que está sobre ela, garantindo sua proteção. “É como se fosse o iglu, que é todo feito de gelo, mas preserva o ambiente interno aquecido”, dizem os especialistas. Por outro lado, nas plantas que não se conservarem molhadas no momento da geada, a temperatura interna pode facilmente chegar a números negativos e danificar os tecidos internos.
Finalmente, é importante destacar que a suspensão da irrigação, bem como a pulverização, devem ser feitas alguns dias antes da geada a fim de dar tempo para a selva se concentrar na planta. Por outro lado, a irrigação emergencial, só é recomendada para manter a lavoura molhada no momento da geada. Se for feita com muita antecedência, vai haver a diluição da seiva e potencializar os danos da geada.
Quanto ao efeito da massa de ar frio, essa é praticamente impossível de ser amenizada por esses métodos, uma vez que ela queima a gema apical, quebra dominância apical e induz a formação de brotações na região do nó na porção mais interna dos ramos. Infelizmente, agora é um momento propício para que isso aconteça, pois em muitas regiões, é nesse nessa época que as gemas estão passando pelo processo de indução e diferenciação e isso pode levar as gemas seguirem o caminho vegetativo e não o reprodutivo. No ano passado, isso aconteceu e uma das consequências foi o surgimento de rosetas “banquelas” e nós com inúmeros brotos. Portanto, fique de olho nas previsões e na dúvida, contrate um consultor ou um profissional especializado em irrigação e que tenha prática com essas ferramentas.
Fotos: Guy Carvalho.
Essas fotos foram cedidas pelo consultor da Fazenda Guy Carvalho. Segundo ele, no ano passado, a lavoura vinha sendo irrigada normalmente e, em meados de maio, no último dia de irrigação, o pivô quebrou e sem que ninguém se atentasse continuou a molhar, durante a noite toda, uma área fixa do talhão, de modo que a água que deveria cair na área inteira foi colocada somente nessa faixa em que o pivô parou de rodar. No dia 20 de junho, veio a geada, queimando, curiosamente, apenas uma faixa contínua da lavoura enquanto o restante apresentava apenas uma leve queima. Segundo o consultor Guy, dias depois foi constatado que a área que sofreu os danos severos da geada foi exatamente a faixa que recebeu água em excesso durante a noite toda e nos talhões de sequeiro, que se encontram fora do campo de ação do pivô, o dano foi praticamente zero.
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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