O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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1. Introdução
A preocupação com a produção e o consumo de alimentos seguros está cada vez maior entre os consumidores. O uso correto dos insumos na produção agropecuária, é fator essencial para a garantia de volumes adequados de alimentos, tanto para a segurança alimentar das populações, quanto para a sustentabilidade econômica dos produtores.
Quando necessário, o uso de defensivos agrícolas garante o controle de pragas, doenças e plantas daninhas, mantendo a produtividade das lavouras em níveis satisfatórios, tanto para a população, quanto para os produtores e seu uso correto, aumenta a produção das lavouras e garante ao consumidor, que os resíduos finais no produto agrícola, estejam dentro dos níveis aceitáveis pelos órgãos oficiais de saúde e agricultura.
Os grãos de café apresentam um pico de absorção de nutrientes, durante a fase de granação e início de maturação, período que pode variar entre 153 e 175 dias após a florada, sendo esta uma fase de alta capacidade de absorção via foliar.
2. Objetivos
2.1. Objetivo Principal
O presente trabalho tem como objetivo avaliar os resíduos do herbicida glifosato, em amostras de café, em diferentes épocas de aplicação.
2.2. Objetivo secundário
Identificar qual(is) a(s) melhor(es) época(s) de aplicação de glifosato, para a manutenção de resíduos dentro do LMR - Limite Máximo de Resíduo, aceito oficialmente no Brasil e no Exterior.
3. Materiais e Métodos
3.1. Quanto a lavoura e o tipo de solo
O trabalho foi feito no Sitio Cerrado, no bairro Condessa, Município de Cabo Verde – MG, em lavoura da Variedade Catucaí Amarelo 24/137, espaçamento de 3,2 x 0,7, com idade de 4 anos. Tipo de solo: Argissolo Vermelho-Amarelo.
3.2. Quanto ao herbicida e as aplicações
Todas as parcelas do experimento, inclusive a testemunha (tratamento 6) receberam uma 1ª aplicação de 720 gramas de glifosato (1,5 lt/ha de Roundup original) + 32 gramas/ha de carfentrazona (80 ml/ha de Aurora) + 1 lt/ha de Oleo Vegetal (Aureo) no dia 25/11/2019.
As aplicações foram feitas em condição de maior risco de resíduos, ou seja: plantas daninhas altas, sem proteção para a parte inferior da planta (“saia”) do café, ramos inferiores muito baixos e tocando o solo (“saia baixa”). Em função destas condições, durante a aplicação, os ramos inferiores (“saia”) das plantas foram muitas vezes atingidos pela pulverização, o que não é considerado uma Boa Prática Agrícola (BPA). As condições citadas acima são facilmente encontradas em pulverizações comerciais, principalmente em regiões montanhosas.
Em todas as parcelas foram feitas aplicações de glifosato (Roundup original) na dosagem de 1200 gramas/ha de glifosato (2,5 lt/ha de Roundup original), aplicada com bomba manual costal de 18 litros, para vazão de 200 lts/ha de calda, utilizando bico espuma 80.02, com as plantas daninhas em tamanho variando entre 50 e 70 cm.
Foram feitas 5 aplicações, em area total da entrelinha, em 5 datas diferentes, sendo uma antes do pico de absorção (140 dias após florada), duas durante o pico de absorção (154 e 168 dias após florada) e duas após o pico de absorção (182 e 196 dias após florada), conforme tabela 1, com intervalos de 15 dias entre elas, com 4 blocos (para 4 repetições), para cada uma das aplicações, totalizando 20 parcelas, com 10 plantas cada uma, mais uma area como testemunha que foi mantida com roçada.
Em todos os tratamentos foi incluído 24 gramas/ha de Carfentrazona (60 ml/ha de Aurora) + 72 gramas/ha de Cletodim (300 ml de Poker) + 1 lt/ha de oleo vegetal (Aureo), usualmente utilizados pelos produtores e visando o controle de ervas daninhas resistentes ao glifosato.
3.3. Quanto a colheita, secagem e preparo das amostras
O café colhido de forma manual, com a maioria dos grãos maduros, entre os dias 08 e 12/06/2020, foi descascado e posto para secagem em terreiros cimentado e as parcelas foram secadas individualmente separados por tratamento, num total de 24 amostras. Os intervalos entre a aplicação do glifosato e a colheita ficaram entre 55 e 107 dias, conforme tabela 2.
Após a secagem, o café descansou por 30 dias e foi beneficiado, as amostras preparadas no laboratório de classificação da Cooperativa Cooxupé, no padrão requerido pela Experimental Agrícola do Brasil Ltda., ou seja: Tipo 3 para melhor, com no máximo 12 defeitos (de acordo com a tabela COB), peneiras 15 e acima (máximo de 10% de vazamento de peneira 14), bebida fina, bom aspecto, seca homogênea e máximo 11,0% de teor de umidade. O preparo das amostras foi feito pelo departamento de classificação de café da Cooxupé, em Guaxupé.
As amostras foram codificadas, identificadas e enviadas para a análise, mantendo-se a codificação em sigilo até o resultado final.
3.4. Quanto as análises dos grãos
As amostras foram fracionadas e parte de cada uma delas foi enviada para o laboratório Bioagri (Meuriex), que executou a análise específica de resíduos de glifosato, dentro do padrão Europeu.
4. Resultados e conclusões
Resultados
A tabela 3 mostra os resultados das amostras de laboratório:
A parcela 1 (fora do pico de absorção de nutrientes) apresentou resíduo médio de 0,171 mg/kg de glifosato.
As parcelas 2 e 3 (dentro do pico de absorção de nutrientes) e 4 e 5 (fora do pico de absorção de nutrientes) não tiveram diferença estatística em seus resultados, variando na média das repetições por parcela, entre 0,392 mg/kg e 0,525 mg/kg de glifosato.
A parcela 6 (testemunha) apresentou resultado médio de 0,015 mg/kg de glifosato e não teve diferença estatística com a parcela 1.
Após os resultados de laboratório, foram aplicadas as variáveis estatísticas, pelo Prof. Felipe Campos Figueira, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - Campus Muzambinho, conforme Gráfico 1 para serem definidos os resultados finais e conclusões do trabalho.
Conclusões
A absorção de glifosato (herbicida sistêmico) pelas folhas do café, quando não aplicadas as boas práticas agrícolas (BPAs), acarreta o transporte e armazenamento deste nos grãos de café.
Conforme a análise estatística, para a linha de corte de época de aplicação de glifosato:
Existe BAIXO RISCO de contaminação (LMR 0,1 mg/kg) indica > que 169 dias antes da colheita,
Existe MÉDIO RISCO de contaminação indica entre 147 e 169 dias antes da colheita.
Existe ALTO RISCO de contaminação indica entre 51 e 147 dias antes da colheita.
Os resíduos, acima do normal, observados nos resultados estão ligados a não distribuição e diluição em plantas que não seriam atingidas pela pulverização, uma vez que todas as parcelas tinham as mesmas condições de maior risco, o que em lavouras comerciais dificilmente acontece em toda a área.
A não utilização das Boas Práticas Agrícolas (BPAs) pode inviabilizar o uso do glifosato em lavouras de café em produção, por causar altos índices de resíduos nos grãos.
Autores do trabalho:
Cesar Augusto C. Candiano; Guy Carvalho; Luiz Viana; Dr. Aldir Teixeira; Paula Santini
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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