X
Banner da noticia
Ícone de calendário
12/08/2020
Ícone de coração
José Donizeti Alves
Estamos no inverno. Com o que o cafeicultor tem que se preocupar?

A partir do início do outono, de uma maneira geral, folhas e ramos de café desaceleraram progressivamente o crescimento e, no inverno, o freio foi definitivamente acionado, o crescimento cessou e as plantas entraram no chamado repouso vegetativo. Por outro lado, os frutos, ao contrário, cresceram e amadureceram respectivamente nesses períodos. Desde dezembro, o cafeeiro já estava dando sinais de que isso iria acontecer, quando passou a desviar, paulatinamente, a rota de utilização de carboidratos em direção aos frutos e em detrimento dos ramos ortotrópico e plagiotrópico. 

A queda na temperatura noturna foi o sinal externo desencadeante dessas respostas, que, na verdade, foram reflexos de uma forte desaceleração na atividade de milhares de enzimas foliares a ponto de fazer com que agora, no inverno, o metabolismo caísse ao nível basal. A partir daí, não se notam mais nenhum crescimento de ramos e folhas. Em outras palavras, enquanto o repouso permanecer, a planta estará fazendo apenas o suficiente para que essas partes permaneçam vivas. Por outro lado, os frutos, acionando processos de transformações bioquímicas que não envolvem consumo de carbono e não exigem nenhum gasto de energia, amadurecem. 

Vê-se aí um coordenado equilíbrio entre os crescimentos vegetativo e reprodutivo. Quando ramos/folhas crescem, a frutificação se estabelece. Quando frutos crescem, a ramificação e o enfolhamento interrompem. Para uns, esse jogo se chama competição entre as partes vegetativa e reprodutiva. Para outros, ramos e folhas cedem a prioridade de crescimento aos frutos. Independente daquilo que denominamos, o cafeeiro segue crescendo e produzindo frutos ano após ano. Tudo isso coordenado pelo ambiente e por um fino balanço hormonal envolvendo promotores (auxina e giberelina) e inibidores (ácido abscisico e etileno) de crescimento, em que uns caem e outros sobem. 

Para que haja harmonia entre folhas e frutos no cafeeiro é necessário que as primeiras (fonte) supram de carbono e energia o segundo (dreno). Para tanto, as folhas têm que estar em número e qualidade adequadas para manter a carga de frutos desde a pré-florada, passando pelo vigamento dos botões, crescimento e maturação dos frutos. Se em alguma dessas fases houver comprometimento no número e na qualidade das folhas, as safras atual e próxima poderão ser comprometidas em níveis proporcionais aos danos.  

Posto essas colocações fisiológicas que de certa forma suprem de conhecimento a técnicos e a cafeicultores na tomada de decisão, resta agora responder à pergunta título dessa matéria. Antes disso, nunca é demais reafirmar que a cafeicultura é uma atividade em que ações de hoje podem refletir nos resultados em até dois anos, portanto não se pode descuidar em nenhuma época do ano. 

No inverno, o metabolismo foliar é muito baixo e, portanto, muito pouco há que se fazer com pena de jogar recursos fora. O ideal é preparar a lavoura para esse período seco e frio e as ações devem ser tomadas a partir de setembro, começando com (i) adubações durante todo o período chuvoso, sempre obedecendo a análise de solo e folhas; (ii) calagem e gessagem; (iii) poda, de preferência logo depois da colheita e sem esquecer as desbrotas; (iv) adubações foliares; (v) controle de pragas, doenças e do mato durante todo o ano; (vi) desde que houver necessidade, irrigar continuamente a lavoura, mas sem perder de vista a necessária suspensão da irrigação no inverno, com vista a concentrar a florada; (vii) bioestimulantes em épocas bem definidas; (viii) adubação nitrogenada de inverno desde que se tenha chuva ou irrigação; (ix) consultoria idônea/reconhecida no meio e (x) estudar sempre e ler bastante sobre a cultura do café. 

Se ficarmos atentos a essas e outras práticas que não foram listadas aqui por falta de espaço, a lavoura sairá da colheita vigorosa, enfolhada e com folhas verdes e sadias, ramos com inúmeras rosetas e cada uma delas abrigando incontáveis botões florais, ramos plagiotrópicos grossos e sistema radicular profundo contendo em toda sua extensão raízes absorventes. Enfim, uma lavoura que, apesar de ter produzido bastante, apresenta todos os requisitos de uma grande safra vindoura. E mais além, aqueles que ainda não colheram o café poderão ter uma trégua para que se concentrarem mais ainda na colheita com a certeza de que fizeram bem o dever de casa, uma vez que a fonte da sua produção, que é a lavoura, está preservada para grandes produções nos próximos dois anos.

Pela sua experiência com o café e com o café irrigado, Guy traz uma opinião que reforça a necessidade de um estresse hídrico controlado com vista a uniformizar o desenvolvimento dos botões florais. Para ele, é fundamental que as plantas fiquem um período completamente sem água durante o inverno. Obviamente, há necessidade, como dito anteriormente, de prepará-las previamente para esse momento, realizando todos os tratos adequados e cuidando das partes nutricional e fitossanitária para que o cafeeiro fique do final de junho até o final de agosto/início de setembro sem água. Dentro da sua prática no campo e pela validação de experimentos conduzidos pela Embrapa (CPAC - DF), Guy afirma que isso é imprescindível para se fazer café especial, que é o foco do seu trabalho durante todos esses anos.

“Quando pensamos em café especial, pensamos em café de alta qualidade, e para isso o produtor deve colher o máximo de grãos cereja. Se a água não for interrompida por completo, as diversas floradas irão impedir que no momento da colheita se tenha o máximo de grãos cereja ao mesmo tempo nos pés de café, por isso o estresse hídrico total é necessário para que a florada ocorra de maneira mais uniforme, fazendo com que o produtor alcance maior produtividade e qualidade.”, disse Guy. 

As fotos da galeria foram tiradas no dia 12/08/2020 na Fazenda Roselândia, em Carmo do Rio Claro/MG, de propriedade do Carlos Augusto Rodrigues de Mello. As lavouras fazem parte de uma área irrigada que está em fase final de estresse hídrico e devem receber água nos próximos dias, pois as gemas já estão prontas, ou seja, evoluíram o suficiente para uma florada bastante uniforme.

Últimas postagens
28/09/2016
Safra 2016/2017
Leia mais
Seta para direita
30/11/2016
Adolfo Ferreira é reeleito presidente da BSCA
Leia mais
Seta para direita
22/12/2016
Em busca das origens do café especial sul mineiro
Leia mais
Seta para direita
Ícone de Check

Últimas notícias

Ver Todas
imagem representativa

O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?

ícone calendário 19.12.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Flor estrelinha: um tema que desperta, em todo ano de calor e seca, a curiosidade do cafeicultor

ícone calendário 01.11.2023 ícone de compartilhar

A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Importância da irrigação para garantia do bom pegamento da florada do cafeeiro arábica

ícone calendário 18.10.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Florada do café: Temperaturas elevadas podem prejudicar o pegamento

ícone calendário 17.08.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Podas do cafeeiro arábica

ícone calendário 19.07.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Clima: mais chuva e temperatura abaixo da média marcam período

ícone calendário 06.06.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Estratégia para estimular o crescimento de raízes do cafeeiro no inverno

ícone calendário 19.04.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita
imagem representativa

Análise foliar de café

ícone calendário 31.01.2023 ícone de compartilhar

Ver mais ícone seta para direita