O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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1. Considerações fisiológicas sobre a granação do café
E a frutificação do café segue seu rumo normal e já está na granação. De todas as fases, essa é a mais imperceptível, uma vez que as transformações acontecem internamente, com poucas alterações na textura do fruto e na coloração da casca, que continua verde. Durante a granação, a camada mais interna do fruto chamada de endosperma, que antes era uma massa disforme, leitosa e gelatinosa, começa a solidificar, paulatinamente, até que duas sementes se formem por completo, envoltas cada uma delas pelo pergaminho.
Fisiologicamente essa é uma fase (que a depender do clima e da altitude pode durar de janeiro a abril) em que os carboidratos, sintetizados nas folhas ou armazenados nos ramos, se translocam ativamente para os frutos, onde servirão como fonte de carbono e energia para o desenvolvimento do grão. Daí a necessidade de um apreciável volume de água disponível no solo, que servirá como meio de transporte de fotoassimilados e de minerais para que haja o enchimento da semente em tamanho e peso. Fica óbvio, portanto, que na fase de granação existe uma grande demanda de água pelo cafeeiro. Dessa forma, um estresse hídrico pode prejudicar a frutificação, produzindo frutos mal granados que causam diversos tipos de defeitos e, na pior das hipóteses, o chochamento de grãos com perda de rendimento, da qualidade e do valor do produto.
Em 2014, quando as principais regiões cafeeiras do Brasil foram assoladas por seca e muito calor na época da granação, quantificamos em um experimento que, em lavouras irrigadas, a taxa de chochamento foi de 24%, enquanto que em lavouras de sequeiro a taxa aumentou para 34%. Vejam que a causa primária dessa anormalidade fisiológica foi o calor e não a seca. Isso se explica, pois o calor, ao promover o fechamento dos estômatos, além de prejudicar a fotossíntese, afetou o transporte de água no sistema solo-planta-atmosfera, restringindo a (re) translocação de água e minerais até os frutos. Além disso, as altas temperaturas limitaram a atividade de enzimas envolvidas na quebra de polissacarídeos em açúcares mais simples, bem como o carregamento e descarregamento desses açúcares no floema, etapa fundamental para a chegada de fotoassimilados nos frutos.
2. Expectativa sobre a atual fase de granação
O Boletim de Aviso divulgado pela Fundação Procafé, em fevereiro de 2020, atesta para as regiões Sul do Minas Gerais, Alto Paranaíba/Triangulo Mineiro e Alta Mogiana que “as chuvas ficaram muito acima da média histórica e as precipitações elevaram o armazenamento de todas as regiões que estão praticamente no máximo e geraram um grande excedente hídrico, e que as temperaturas ficaram abaixo da média histórica”.
Quanto às lavouras, de maneira geral, se encontram com bom vigor vegetativo e reprodutivo, e parece que se beneficiaram desse período de chuvas e com o arrefecimento das temperaturas, embora os boletins apontem para a necessidade de monitoramento e controle de algumas doenças e pragas.
Em conjunto, o vigor das plantas, o excedente de água no solo e as temperaturas mais amenas que devem prevalecer sugerem que as reservas de carboidratos nas folhas e ramos estão adequadas e, portanto, não deve haver problemas com a granação dos frutos.
Esse artigo do professor José Donizeti vem confirmar o que já estávamos percebendo, uma vez que iniciamos o ano com muitas chuvas e acreditávamos que para a fase da granação não haveria risco de perda. Pela minha experiência, nos outros anos em que não faltou água nessa fase, tivemos bons índices de renda com o café, ou seja, gastou-se menos litros para obter uma saca. Índices adequados de água na fase de granação fazem com que as plantas apresentem mais reservas para as gemas, que produzirão no próximo ano, e se saiam melhor após a colheita, ou seja, com maior potencial de produção para a próxima safra. Isso me deixa muito otimista de que, este ano, os arbustos seguirão o mesmo padrão, especialmente as plantas mais jovens. Nossa perspectiva já era de que teríamos uma boa granação, e as informações e conhecimentos passados pelo prof. José Donizeti nos deixa ainda mais confiantes, uma vez que endossa nossa percepção, afirma Guy Carvalho.
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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