O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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2022 começou e já podemos perceber que as adversidades climáticas continuarão nos acompanhando. Neste primeiro decêndio de janeiro, tivemos chuvas intensas e acima da média esperada para o mês. Em alguns locais, o índice pluviométrico já superou o esperado para o mês todo, o que não é a condição ideal, uma vez que o cafeeiro não gosta de excessos, ou seja, nem de seca, nem de encharcamento.
Além disso, no nosso ano agrícola, que começou em 2021, houveram situações climáticas adversas, como veranicos e altas temperaturas em janeiro, o que prejudicou o desenvolvimento de ramos e gerou menor número de internódios, baixas reservas de água no solo durante o período seco e geadas como a muito tempo não se via. Durante a florada em outubro, também tivemos chuvas excessivas e a soma de tudo isso deverá representar grande impacto na safra de 2022. O que podemos tirar de lição é que precisamos evoluir a cafeicultura, por isso, inspirado pelo conteúdo Cinco lições de 2021 para o Agronegócio Cafés do Brasil, do nosso colunista Celso Vegro, selecionei neste conteúdo 6 lições agronômicas importantes que devem ser aplicadas da porteira para dentro com o objetivo de diminuir o impacto das adversidades climáticas na produção de cafés.
A primeira lição fala sobre renovação através de novos plantios e a importância de conhecer as características das variedades escolhidas. No ano passado, muitas lavouras precisaram ser podadas, porém a poda não muda o sistema de produção em que a lavoura está inserida, que poderá continuar limitada por ele e também pelas características da cultivar ali plantada, por isso vale a pena analisar se não é o caso de realizar o replantio no local utilizando um sistema mais moderno, com variedades mais adequadas, resistentes a pragas e doenças e de maior potencial de produtividade. Observamos nos diversos campos que alguns materiais são mais resistentes a altas temperaturas quando comparado com outros na mesma condição, daí a importância de conhecer o comportamento da variedade na região e levar essa característica em consideração no momento da escolha da variedade a ser plantada.
Além disso, é importante fazer o planejamento antecipado do plantio através do levantamento planialtimétrico do local para locação dos carreadores, posição dos quebra-ventos e maior aproveitamento da área com o objetivo de obter maior população de plantas por hectare.
A segunda lição consiste na construção da fertilidade do solo. Para isso é necessário construir vida e não apenas realizar o aporte de nutrientes, deixando assim uma reserva para ser utilizada em determinados momentos e sabendo que a planta irá retirar do solo apenas o que precisa. Além disso, esse conceito leva em consideração o quanto é importante um bom manejo de ervas daninhas e aumento de matéria orgânica, o que intensifica a atividade biológica e torna o sistema de produção mais sustentável.
Ainda na segunda lição, devo destacar o uso de um nutriente indispensável e muitas vezes negligenciado: o fósforo, que é fundamental para o desenvolvimento e produção do cafeeiro, uma vez que aumenta enraizamento e estimula a reprodução, atua no transporte e armazenamento de energia, atua na síntese de proteínas e formação das células, contribui para a fotossíntese, aumentando assim o vigor e conferindo maior resistência a adversidades climáticas e doenças, e é indispensável para plantas jovens que devem produzir e crescer. Também é importante não negligenciar o uso do magnésio e dos micronutrientes, principalmente boro e zinco, que possuem funções essenciais para as plantas.
Para a terceira lição, trago uma técnica fundamental para que a segunda lição possa ter sucesso: o plantio da cultura de cobertura, essencial para manter o solo vivo. Os principais benefícios da utilização da cultura de cobertura são: controle da erosão do solo, cobertura e proteção, aumento no teor de matéria orgânica, reciclagem e fornecimento de nutrientes, incremento na infiltração de água no solo, aumento de biodiversidade, melhorias na produtividade e menor risco de ocorrência de pragas e doenças. A braquiária é umas das opções mais utilizadas pelos produtores que utilizam essa técnica, mas também é possível utilizar um consórcio de plantas, os chamados mix. se incluir de 2 a 4 ou até 6 ou 10 plantas de diferentes espécies e/ou famílias, que são semeadas simultaneamente e irão proporcionar uma maior biodiversidade, contribuindo para um maior equilíbrio ambiental com resultados favoráveis ao solo e ao cafeeiro.
Ainda na terceira lição, em áreas de renovação de cafezais, é extremamente importante fazer o levantamento da incidência de nematoides e utilizar espécies de plantas de cobertura mais adequadas para o manejo dessa praga.
Passando para a quarta lição, ressalto a importância de respeitar o limite imposto pela geada. Há muito tempo não geava com tamanha intensidade e alguns acreditavam que estávamos livres desse fenômeno por conta das mudanças climáticas, porém no ano passado ela veio muito forte. Na tentativa de mitigar os danos da geada no cafeeiro existem algumas estratégias de escape de danos, e a primeira delas sempre é a recomendação de implantar lavouras em áreas conhecidas, sem incidência de geada, com histórico de pelos menos quatro anos sem a ocorrência desse fenômeno. Para áreas com esse risco é importante fazer seguro não só das plantas, mas também do resultado financeiro, garantindo assim menores perdas; ter lavouras com alta produtividade nesses locais, uma vez que, nos anos em que não ocorrer esse fenômeno, o produtor precisa colher muito café; e também ter em mente que diversas outras atividades com boa remuneração, como plantio de outras culturas – milho e soja são alguns exemplos, podem ser uma opção. Então se esse local permitir mecanização e for uma área apta para esses cultivos, vale a pena pensar sobre isso. Outra alternativa interessante em áreas de maior risco de ocorrência de geadas é fazer o consócio do café com plantas arbóreas, como macadâmia e cedro australiano. Essa prática, além de mitigar o efeito da geada pelo sombreamento do cafeeiro, possibilita uma outra renda ao cafeicultor.
A quinta lição é sobre a poda, pois plantas podadas perdem menos energia e conseguem passar mais facilmente por momentos adversos, como seca e temperatura elevada. A técnica é realizada com o intuito de rejuvenescer as plantas, pois através dela os galhos enfraquecidos pela idade são renovados e os danos causados pelo clima, por doenças e pragas são retirados, fazendo com elas apresentem maior vigor e resistência. Também favorece uma maior luminosidade e entrada de ar para os pés em local de fechamento, equilibrando assim estruturas da planta. O cafeeiro deve ser mantido sempre jovem, pois dessa forma consegue produzir e crescer para a safra seguinte. Há diversos tipos de podas para várias situações, e a adoção do sistema correto depende de uma criteriosa avaliação antes de sua execução.
A sexta e última lição agronômica que irei apresentar é a irrigação, técnica de mitigação da falta de chuva em momentos cruciais para o cafeeiro. O estresse hídrico por falta de água pode levar à queda de produtividade, embora seus efeitos dependam da duração, intensidade e estádio fenológico em que a planta se encontra. Nos estádios fenológicos de vegetação, formação do grão e maturação, uma deficiência hídrica severa pode afetar a produtividade. Em pesquisas conduzidas nos últimos anos, na região da Alta Mogiana Paulista, verificou-se uma resposta muito positiva da irrigação no aumento da produtividade dos cafeeiros, o que deve ser levado em consideração se quisermos atingir altas produtividades e qualidade dos grãos. E aqui fica uma dica: para não ter problemas com a implantação e uso do sistema de irrigação, o cafeicultor deve procurar técnicos e empresas realmente competentes com relação ao planejamento, montagem e execução do projeto.
Nesse ano que se inicia, repensar a atividade e a forma de condução das lavouras é essencial para o sucesso das futuras safras. Há necessidade de cada vez mais profissionalização do cafeicultor, que deve buscar orientações, seguir novas tecnologias e rever conceitos. Produzir café não é para amadores. Quanto ao futuro da cafeicultura, vejo um cenário muito positivo e com preços remuneradores, porém é necessário fazer as lições de casa: rever os conceitos, quebrar paradigmas e adequar o sistema de produção.
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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