O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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A florada do cafeeiro, sem dúvidas, é um dos momentos mais bonitos da lavoura e também muito importante para o produtor. O benefício de observar o cafezal todo branco e cheio de flores perfumadas vem acompanhado da necessidade de cuidar delas, pois são as flores que definem o potencial produtivo do cafeeiro, já que delas se origina o fruto responsável por proteger o desenvolvimento da semente.
Geralmente, a florada ocorre durante a primavera, entre os meses de setembro e novembro. Porém, pode ocorrer mais de uma florada no ano dependendo das características da cultivar e de fatores ambientais, como radiação solar, temperatura, disponibilidade de água etc. As mudanças climáticas que vêm ocorrendo têm um grande impacto sobre a floração, que acaba ocorrendo em diversas épocas e prejudica muito a colheita do café.
Para entender melhor como isso ocorre é necessário conhecer um pouco sobre o desenvolvimento das plantas cafeeiras. No primeiro ano fenológico ocorre a vegetação, formação seguida de indução, crescimento e repouso das gemas florais. Já no segundo ano fenológico ocorre a florada, chumbinho, expansão e posterior granação e maturação dos frutos. É necessário que a planta passe por um estresse hídrico para que ocorra o desenvolvimento das gemas florais, o que normalmente ocorre durante a estação seca (outono/inverno). A ideia básica é que a planta tenha, ao final desse período, o mesmo estado de desenvolvimento das gemas florais em todo o ramo produtivo do cafeeiro, pois sabemos que quanto maior for esse desenvolvimento, maior será a uniformidade da floração.
O retorno das chuvas após a estação seca é o que garante a uniformização da florada, e a intensificação na irregularidade dessa distribuição tem colocado em risco a produtividade e qualidade dos frutos, levando a perdas da rentabilidade das lavouras com consequente impacto negativo na sustentabilidade do setor produtivo. Para corrigir esse desafio, alguns produtores optam pela utilização de técnicas de irrigação nos cafeeiros, realizadas no intuito de suprir o seu pleno desenvolvimento, tanto para o crescimento vegetativo quanto para garantir o desenvolvimento reprodutivo, que inclui a formação e expansão dos frutos.
Até recentemente as lavouras de café eram irrigadas com alta frequência, e muitas vezes as aplicações de água eram feitas diariamente, pois acreditava-se que nas áreas consideradas mais quentes, como no Cerrado por exemplo, os cafeeiros não suportariam as condições climáticas locais. Esse conceito errôneo causa transtornos aos produtores que ainda fazem uso dessa prática, pois as raízes das plantas não absorvem água e nutrientes em condições de solo saturado. Além disso, quando a água é aplicada durante todo o ano, as plantas normalmente apresentam vários eventos de floração devido ao fato de que as gemas são formadas ao longo dos diferentes meses e consequentemente atingem o estádio de desenvolvimento E4 (com aproximadamente 4mm de comprimento) em diferentes épocas. Outros problemas resultantes de se manter a irrigação durante todo o ano estão relacionados ao pegamento dos chumbinhos das diferentes floradas, uma vez que temperaturas máximas diárias elevadas superiores a 33ºC no momento da floração, que normalmente ocorrem no final de setembro e outubro, justamente no período da principal florada dos cafeeiros irrigados durante todo o ano, prejudicam o desenvolvimento do tubo polínico e impedem que o grão de pólen atinja o óvulo. Quando isso ocorre, é comum observar a requeima das flores e o baixo pegamento da floração.
O uso da técnica do estresse hídrico, em que há aplicações de água em um período muito bem definido para submeter os cafeeiros a um estresse hídrico controlado durante parte da estação seca, sincroniza o desenvolvimento dos botões florais que são formados ao longo do ano e busca uniformizar a floração e maturação dos frutos. Essa forma de manejo das aplicações de água possibilita ainda um controle sobre a época de floração dos cafeeiros, evitando que ocorra em períodos com temperatura inadequada, o que poderia comprometer o pegamento dos chumbinhos. Os produtores que optam por esse método têm resultados positivos na produtividade e qualidade dos frutos devido ao melhor pegamento dos chumbinhos, redução de frutos secos, que muitas vezes caem e ficam ardidos, redução do percentual de verdes que ainda não completaram o enchimento dos grãos e maior crescimento das plantas devido à compensação após o período de estresse hídrico controlado.
A foto mostra o resultado de um experimento de setembro de 2005 feito por Guy Carvalho em parceria com a equipe do Dr. Antônio Guerra da Embrapa. O florescimento uniforme observado em faixa ocorreu após o retorno da irrigação nas plantas que ficaram sem água por cerca de 70 dias.
Na foto, observa-se um pivo com bicos tipo Lepa utilizados para irrigação.
Comparando os cafeeiros irrigados durante todo o ano e os sujeitos a estresse hídrico adequado, fica claro que a estratégia de manejo de água reduz a utilização da água e da energia na irrigação e aumenta a produtividade de café beneficiado e de grãos cerejas no momento da colheita, elevando significativamente o potencial de produção de cafés especiais de melhor preço no mercado.
Agradecimento especial ao Dr. Antônio Guerra, da Embrapa, pela colaboração técnica na produção deste conteúdo.
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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