O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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Pela fotossíntese das folhas, o cafeeiro produz glicose que serve como substrato para a respiração (Glicólise, Ciclo de Krebs e Cadeia de Transporte de Elétrons Mitocondrial) que tem como uma das funções, produzir energia na forma de ATP (36 ATPs/glicose). O “pool” de Adenosina Tri Fosfato (ATP) ) serve como um depósito temporário de energia, que é prontamente utilizável pela célula na realização de suas funções entre elas: fazer a planta crescer, produzir e sobreviver. Para cada um desses processos, é requerida uma certa quantidade de energia que, em termos bioquímicos, é definida como custo energético de construção ou preservação que é a quantidade de glicose, carbono ou ATP que a planta utiliza para formar um grama de biomassa ou de grama de biomoléculas, respectivamente.
Sob condições normais de
clima e com um manejo adequado, a maior fração dessa energia é
carreada para atender os processos de crescimento e produção e uma
pequena parte é utilizada no combate aos estresses do dia a dia (Figura a
esquerda). Por outro lado, sob condições de clima adverso ou de manejo
inadequado, a maior parte da energia é desviada para montar estratégias de sobrevivência
e não para os processos de crescimento e produção (Figura a direita).
É importante destacar que
o alto crescimento vegetativo do cafeeiro, em anos de bienalidade negativa, logicamente não
traz, de imediato, nenhum benefício para a produção (tanto é que o café produz
menos) pois os custos energéticos de construção de folhas (biomassa
fotossinteticamente ativa) são geralmente muito elevados. Entretanto, a médio
prazo, essa alta demanda de energia traz grandes benefícios à produção pois, a
alocação preferencial de energia para mecanismos de crescimento vegetativo em
anos de bienalidade negativa, aumenta o balanço de energia para próximo ano,
predispondo a lavoura a produzir mais em um ano de bienalidade positiva.
Portanto, ao contrário do
que muitos pensam, aceitar a bienalidade, não é negar o papel central da produção de grãos pelo cafeeiro,
mas sim reconhecer que a produção de biomassa, como um meio de produzir e
armazenar energia, é um estratégia que o cafeeiro utiliza para deixar mais
descendentes (sementes) no próximo ano. Este raciocínio leva a concluir que alta
produtividade, pelo alto custo metabólico na produção de um grande número de sementes,
queiramos ou não, é fator de estresse para o cafeeiro, que ele contorna, com a
alternância de produção entre os anos. Lembrem-se que, sob o ponto de vista evolutivo,
a planta é apenas o meio pelo qual a semente utiliza, para produzir mais
sementes.
Voltando para a figura do
lado direito, o cafeeiro, para sobreviver à pressão dos estresses como a seca
por exemplo, lança mão de estratégias que gastam muita energia e que, no curto
prazo, não se revertem em alocação de biomassa verde, mas no futuro, garantem a
produção. Resumidamente, podemos citar, de início, os gastos com a percepção
dos estresses pelas plantas na síntese de proteínas receptoras na membrana
celular. Reconhecido o estresse, no cafeeiro, quando murcham as folhas apenas
nas horas mais quentes do dia, aumenta a respiração (consome mais glicose) para
produzir mais energia a ser utilizada, por exemplo, na síntese de ABA (para
fechar os estômatos) e de etileno (para inibir o crescimento), ativação de
sistemas antioxidantes e produção de outras moléculas sinalizadoras.
Na sequência, quando o
estresse já está instalado e é perceptível pelas folhas murchas ao amanhecer, e
já ressecadas, a planta aumenta ainda mais a produção e gasto de energia,
acelerando ainda mais o consumo de glicose, a fim de produzir mais energia a
ser utilizada na síntese de produtos secundários; modificações morfológicas
como proliferação de radicelas; diminuição de estruturas reprodutivas;
espessamento de folhas; modificações
celulares como deposição de cera e cutícula; lignificação de tecidos; proteínas
de transporte de membranas; rearranjo nos lipídeos das membranas; síntese de moléculas
osmoticamente ativas e aquaporinas; e finalmente elevação na síntese de etileno
com a produção de níveis tóxicos de EROS.
Com a intensificação do
estresse, a pressão ambiental rompe as barreiras de defesas e inicia-se a morte
de radicelas, queda de estruturas reprodutivas, ramificações e ramos ladrões, modificações
celulares como cavitação no xilema, disparo na síntese de etileno, aumento na
toxidez das EROS e paralização na síntese de antioxidantes que em conjunto, dá início à
senescência geral da planta. Finalmente, como golpe final, há o esgotamento das
reservas e da energia das planta com o iminente colapso de todas as funções
fisiológicas do cafeeiro. Como resultado, a produção é mínima (catação) e o
replantio é a única solução para a continuidade da atividade cafeeira.
De maneira bastante
resumida, tentei mostrar os custos energéticos dos estresses do cafeeiro e como
eles desviam a energia que poderia ser utilizada para os crescimentos
vegetativo e reprodutivo. Percebe-se que, na descrição feita nos últimos três
parágrafos, que os custos energéticos aumentam com a intensidade e duração do
estresse. Esses custos basicamente ficam concentrados em processos de
sobrevivência, resultando em menor volume de safra, que no caso do cafeeiro
pode-se estender por até dois anos. Qualquer semelhança com os dois últimos
anos agrícolas, onde tivemos uma longa seca, intercalada por geadas, não é mera
coincidência.
Prof. José
Donizeti Alves
FisioCafé
Consultoria e Palestras Ltda
e-mail: fisiocafeconsult@gmail.com
Telefone: (35) 9 9200-6703
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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