O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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A garantia de resultados satisfatórios na aplicação se dá por base na definição correta do problema fitossanitário, bem como a indicação do produto ideal, em doses adequadas, no momento e na forma mais adequada para pulverizar, pois só funciona o produto que atingir o alvo certo na quantidade e distribuição adequada.
Muitos fatores interferem na qualidade da aplicação de algum produto, sendo eles:
- A cultura: é necessário conhecer detalhes sobre a cultura em que será realizada a aplicação - o espaçamento de plantio, a altura da planta, o nível de enfolhamento e o estádio de desenvolvimento (florada, chumbinho, pré-colheita, pós-colheita). Esses detalhes serão importantes para a definição do volume de calda que será aplicado e da melhor técnica de aplicação. A topografia do talhão também será decisiva para a escolha adequada da forma e dos meios de aplicação.
- Problema fitossanitário: é importante conhecer exatamente o problema fitossanitário a ser controlado, o nível de dano que justifica iniciar o controle e as características do ciclo biológico para a tomada de decisão correta.
Foto: A esquerda ramo atacado por bactéria e a direita ramo atacado por Phoma, doenças que causam morte de ramos e são confundidas a campos.
Foto: Sintoma de bactéria na lavoura
Foto: Sintoma de Phoma na lavoura
- O produto: O conhecimento do produto é importante para definir a dosagem a ser utilizada, dentro do intervalo definido na bula do produto, suas características e o local adequado em que ele deve ser aplicado. Ou seja, conhecendo o produto é possível definir o alvo químico da aplicação. Entre as características dos produtos é necessário conhecer:
a) Modo de ação: Contato, mesostêmico ou de ação translaminar, sistêmico e capacidade de deslocamento (apoplástico ou simplástico)
Foto: Ovos de bicho mineiro antes da eclosão e após, onde já se apresentam as minas, mostrando a importância de se escolher um produto ovicida e sistêmico/translaminar para controle dos ovos e da lagarta.
Foto: A lagarta, quando completa o ciclo, tece um fio até o terço inferior da planta e vai para fase de pupa. Isso ocorre também em folhas no solo, o que dificulta muito a tecnologia de aplicação, necessitando nesse caso de um produto de choque com uma formulação oleosa (EC ou CE) para melhor contato com essa fase da praga.
Foto: Para o manejo de broca é muito importante acertar o momento da aplicação. Sempre pensar em uma boa cobertura sobre os frutos e em produtos de choque e que tenham ação de ingestão, e aplicar antes dela penetrar na semente, onde o produto terá dificuldade ou ação quase zero sobre o alvo. A terceira foto (a direta) mostra o dano causado na semente pelas larvas da broca.
b) Características físico-químicas: degradação pela luz solar, pressão de vapor/potencial de volatilização, comportamento em diferentes níveis de pH, mistura, entre outras, dosagens recomendadas para cada problema fitossanitário e estádio da cultura, período de carência e de reentrada na área.
c) Outro fator importante que influencia na eficiência do produto aplicado é o ambiente. As aplicações com gotas finas, muito finas e extremamente finas devem ser evitadas em temperaturas mais elevadas do que 25 a 30ºC, pois as gotas evaporam rapidamente. A temperatura pode ser medida com termômetros simples ou termômetros digitais. Quanto mais seco estiver o ar, mais rápido as gotas evaporam. Essas aplicações também devem ser evitadas com índice de umidade relativa do ar menor que 50%, pelo mesmo motivo já explicado. Em condições mais críticas de umidade relativa do ar, com índice entre 40 e 50%, poderá ser necessário utilizar gotas médias e maior volume de calda. A umidade relativa do ar pode ser medida com um Termo-Higrômetro. Após as gotas serem lançadas no ambiente, o vento exerce grande interferência na sua trajetória até ao alvo, podendo favorecer ou prejudicar a aplicação. O ideal é que as aplicações sejam realizadas com a velocidade do vento entre 3,5 e 10 km/h e sempre a favor do vento, o que na prática pode ser difícil, mas é necessário evitar as condições críticas. Nas aplicações com equipamentos costais, estacionários, com mangueira ou lanças, dentro da lavoura mais fechada, o vento poderá ter uma interferência menor do que em uma lavoura mais aberta. Quando se aplica a favor do vento ocorre maior penetração e melhor distribuição dentro da cultura. Quando se aplica contra o vento ocorrem desvios e a aplicação atinge mais o operador do que a planta, aumentando o risco de contaminação. A decisão de realizar a aplicação, em relação ao vento, depende também do tipo de equipamento a ser utilizado. Nas aplicações com turbopulverizador, o vento de través (contrário ao fluxo de ar da turbina) prejudica a penetração do produto na copa da planta, comprometendo a cobertura interna da aplicação. Nas aplicações com canhão é obrigatório que o vento sempre esteja a favor da aplicação. Nesse equipamento, o vento é um grande aliado e garante maiores faixas de aplicação com melhor uniformidade. Se houver muito orvalho na planta, a gota pulverizada que chega ao alvo e a encontra, então escorre e não fica retida na planta, portanto o produto não apresentará o resultado eficaz. O orvalho pode ser um aliado no caso de aplicações realizadas no final do dia utilizando produtos que tenham alta retenção nas folhas, pois o orvalho redistribui o produto na superfície do alvo.
Qualidade da água
A água é o solvente que utilizamos para diluir os defensivos, tendo a função de levar os ativos até o alvo que desejamos fazer o controle ou a parte da planta que pretendemos proteger. Pensando nisso, é o veículo e precisamos conhecer e entender a qualidade desse solvente para utilizar em nossas aplicações. Um ponto a ser observado é o ponto de captação dessa água. Não podemos utilizar água de córregos e lagoas, pois podemos ter a presença de areia, argila ou restos vegetais, pois esses fatores podem danificar o equipamento, entupindo bicos e danificando as pontas de pulverização. Além disso, a argila possui cargas e podem haver ligações com as moléculas utilizadas, inativando o seu efeito sobre o alvo. Outro fator é a dureza da água, que é definida como a concentração de cátions originados de carbonatos, bicarbonatos, cloretos e sulfatos, capaz de interferir negativamente na qualidade da calda de um defensivo agrícola. Ela pode causar a floculação ou precipitação dos componentes da formulação, reduzindo a eficiência e entupindo bicos. Outro fator muito importante é o pH da água, que pode interferir na resposta de um ingrediente ativo. De modo geral, o pH ideal para a preparação de uma calda deve ficar entre 4,5 a 7,0, havendo exceções em alguns casos dependendo do produto que será utilizado. Para conhecer melhor a sua água existem laboratórios que realizam essa análise, que deve ser apresentada ao técnico responsável pela propriedade.
Avaliação do pulverizador
A avaliação do equipamento deve ser feita antes que se inicie o período mais intenso de aplicações e tem o objetivo de averiguar se está tudo certo com o ele.
1. Fazer a inspeção, encher o tanque e colocá-lo em funcionamento para limpar e observar algum eventual problema;
2. Retirar os bicos e filtros para limpar (detergente e escova);
3. Fazer a substituição de filtros ou telas quando estiverem danificados;
4. Observar se existem vazamento nas mangueiras;
5. Verificar se o manômetro tem dano e se está em bom funcionamento;
6. Observar se o retorno ou o agitador está funcionando corretamente;
7. Avaliar o direcionamento da pulverização através do turbo atomizador e verificar se está distribuindo para toda a planta de café;
8. Avaliar se a vazão por ponta ou bico de pulverização está uniforme, o que se faz com um cronômetro e um copo medidor. Verifica-se, em um tempo definido, se há a mesma vazão em todas as pontas de pulverização do equipamento. Caso haja variação em alguma, ela deve ser substituída.
Essa avaliação é importante para a verificação do bom funcionamento do equipamento.
Foto: Verificação das pontas de pulverização e do manômetro
Foto: Fluxometro - equipamento utilizado para avaliar a vazão dos bicos. De acordo com a literatura, é aceito até 10% de variação, mas para uma boa aplicação essa variação deve ser quase zero.
Condições para uma boa aplicação
Devemos pensar e olhar sempre para as condições climáticas antes de iniciar uma aplicação de defensivo, o que é um grande desafio para o produtor, pois é um fator que não controlamos, mas precisamos saber para entender o resultado alcançado naquela aplicação.
De acordo com as condições climáticas, podemos ter uma menor deposição da calda de pulverização na superfície foliar e isso interferir no resultado de controle.
As condições limitantes são:
Umidade relativa do ar: mínima de 55%
Temperatura: abaixo de 30°C
Com relação ao vento, como no café temos o turbo atomizador, ele se torna menos importante. Porém, em condições de lavouras novas, em que estamos mais expostos, deve -se pensar que ventos contrários podemos não atingir o alvo.
Devemos evitar sempre os momentos mais quentes do dia, principalmente com baixa umidade relativa do ar, pois nessa situação a eficiência da aplicação diminui muito.
Calibração
Na cafeicultura, temos como padrão o volume de calda de 400 a 500 litros por hectare para aplicações foliares e 150 a 200 litros para aplicação de herbicidas. É importante lembrar que, para aplicações foliares, o volume depende muito do porte da lavoura e também do alvo que queremos obter o controle. Um fator que devemos pensar é na cobertura produzida por essa calda e suas gotas. Alguns especialistas em tecnologia de aplicação trabalham da seguinte forma:
- Fungicida de 70 a 100 gotas por cm2 produzindo gotas finas;
- Inseticidas de 50 a 70 gotas por cm2 produzindo gotas média a fina;
- Herbicida de 20 a 30 gotas por cm2 produzindo gotas média a grossa;
E através disso se chega à vazão a ser aplicada na área ou na lavoura em questão.
Para contabilizar esse número de gotas e a cobertura é necessário um papel hidrossensível, que é distribuído na planta na sua parte externa e interna no terço superior, mediano e inferior, avaliando a distribuição da calda em toda a planta. Com apenas água no tanque se faz uma pulverização e logo após avalia-se a distribuição da calda, contabilizando com uma lupa de 10x de aumento a distribuição das gotas em 1 cm2 de acordo com o alvo. Chegando ao número de gotas desejado, fazemos a calibração do equipamento para avaliar o volume de calda a ser utilizado em 1 hectare.
Foto: Papel hidrossensivél utilizado para avaliar a cobertura e a distribuição de gotas de acordo com a necessidade do alvo, sendo fundamental para aferir o equipamento de pulverização.
Foto: A correta distribuição do papel na planta é fundamental para uma boa análise e deve-se dividir a planta em três partes: terço superior, terço inferior e terço médio, pensado na parte interna da planta e externa.
Foto: para contar o numero de gotas de acordo com a aplicação, podemos utilizar lupas de 10x de aumento com 1 cm2 no local de visualização para facilitar.
Sabendo que a distribuição está uniforme em toda a planta, vamos para a calibração:
1. Marcamos 50 metros em um local o mais próximo da topografia do terreno que irá receber a aplicação ou no próprio terreno;
2. Com tanque cheio se percorre essa área de 50m e marca-se o tempo gasto para percorrer o trajeto;
3. Faz-se o cálculo para achar essa área em m2, ou seja, 50 m x o espaçamento da rua da lavoura;
4. Após obter o tempo, coloca-se o pulverizador para funcionar e avalia-se a vazão;
5. Logo após, avalia-se a quantidade de água que diminuiu no tanque e extrapola esse volume para 1 hectare, em que iremos achar o volume gasto para dar a cobertura desejada para aquela aplicação na lavoura em questão.
Preparo de calda
Um fator importante no preparo de calda é a adição dos produtos ou a sequência de acordo com a formulação para uma melhor distribuição dos ativos.
Com a crescente necessidade de ser cada vez mais eficiente em relação aos processos produtivos, visto o aumento dos custos de produção, a utilização correta do conhecimento sobre a cultura em questão se torna imprescindível para a eficiência do processo produtivo.
Apoio:
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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