Tempo ideal de maturação da lavoura

Acredito que a tomada de decisão para o início da safra é uma das etapas mais importantes para se obter melhoria na qualidade, pois a partir dela o produtor seguirá rumo à cafés de qualidade ou commodities. 

Você sabia que o cereja tem seu time de maturação?

As etapas de maturação incluem:

• Grãos verdes;

• Granados;

• Cerejas; 

• Passas; 

• Secos; 

• Depois os grãos entram numa fase de riscos, em que aparecem os fungos.

Grãos em diferentes fases de maturação

Quando falamos de qualidade, ou seja, colher os grãos no ápice da sua maturação, é necessário entender sobre o tempo que o cereja possui.  

Durante os anos em que atuo no controle de qualidade, comecei a observar que os cerejas possuem seu tempo de maturação. Por exemplo: este ano tivemos, na minha região, um time de 30 dias exatos para o produtor colher a maior porcentagem de grãos cerejas. Começamos com 55% e estamos terminando com 15%. Claro que isso varia de ano para ano. Já nas plantas mais precoces, tivemos 20 dias de maturação. Um café com 55% de grãos maduros, devido ao clima seco, acelerou sua seca em 7 dias enquanto estava no pé.

Se você descobrir qual o tempo do seu cereja, terá uma maior porcentagem de cereja descascado e bons naturais. Lembrando que o café é um fruto que, quando verde, não tem a doçura ideal e possuiu adstringência na bebida. Já quando temos uma maior quantidade de frutos maduros, a bebida apresenta:

•  + Doçura;

• + Corpo;

• + Equilíbrio;

• E uma boa finalização.

Outro ponto importante que muitos produtores erram na tomada de decisão é não saber identificar qual boia da lavoura é de boa qualidade: o primeiro, no início da safra, ou o segundo, no final da safra.

Em algumas regiões, o primeiro boia é ruim, pois passa por condições que comprometem a qualidade da bebida:

• Sofre ação das chuvas; 

• Devido às chuvas aparecem fungos; 

• Apresenta seca de ponteiros;

• Geralmente tendem a ser mais úmidos;

• Possui lavouras em contraface.

Já o segundo é o grão passa que virou boia e possui uma boa qualidade, pois ele é o cereja que completou seu ciclo de maturação e secou no pé, apenas não sendo colhido enquanto era cereja. Esse boia conseguiu preservar a qualidade enquanto estava no cafeeiro.

Já em outras regiões, o primeiro boia é bom, pois passa por condições que agregam na qualidade da bebida: 

• Os locais tendem a ter um clima mais seco; 

• Normalmente as lavouras recebem o sol da manhã;

• São protegidas de ventos.

Nesse ano, os poucos boias que restam no cafeeiro estão com a qualidade comprometida. Acredito que daqui pra frente temos que ter uma expertise na tomada decisão diante da situação, pois sabemos das oscilações que ocorreram no clima. 

Uma situação que afeta a qualidade e não há como prever são as lavouras mais altas que recebem corrente de vento ou aquelas próximas a estradas que também sofrem com o vento, que causa lesões nos galhos do cafeeiro e são a porta de entrada para fungos e doenças. Esses galhos sofrem com:

• Seca de ponteiro; 

• Os grãos presentes neles não amadurecem; 

• Pulam de fase;

• Secam e com a chuva formam os fungos branquinhos ou mesmo rosas. 

Nesse estágio, os fungos são tão velozes que, quando percebemos, a lavoura já está com a bebida comprometida. 

Para o produtor que visa uma melhor qualidade na bebida e se depara com os primeiros pés no talhão apresentando, ao mesmo tempo, grãos nos galhos ou nos ponteiros secos e grãos maduros, o ideal é que os apanhe separadamente ou pule deixando-os para o final, pois se fizer a colheita de todos juntos haverá contaminação de um lote todo por conta de alguns pés ou até litros, o que pode comprometer a qualidade de várias sacas.

Lembrando que um cafeeiro bem nutrido é extremamente importante e equivale a 75% de proteção, ou seja, a nutrição torna a lavoura resistente, pois assim possui energia suficiente para suportar os 25% de intempéries climáticas que o produtor não consegue controlar. 

Sempre digo: O cafeeiro é assim, se você mentiu que colocou comida para ele, ele vai mentir que produzirá para você!

Sei que o cenário é de desafios para se obter qualidade, mas o produtor que se atentou para isso terá melhor retorno financeiro esse ano. O ano está com muitas surpresas e muitos terão dificuldades para entregar acordos futuros. Tivemos um alto índice de grãos chochos e mal granados, além de uma porcentagem relevante de grãos verdes, e com isso houve uma quebra de 20% na produção.

De fato, conversando e investigando esse mercado, alguns produtores da minha região que possuem acordo com cerejas descascadas (praticamente 40% dos produtores) não conseguirão cumpri-lo. Também será um ano em que os provadores terão que buscar constância na prova. Para quem veio da safra 2018 provando cafés de alto nível e se depara com um ano como esse se surpreendeu, pois em uma única amostra apresenta variações, deixando o provador confuso quanto a estabilidade da bebida.

Sabendo identificar o time do cereja e qual o seu melhor boia (1º ou 2º), podemos partir para o monitoramento dos talhões. Falaremos sobre esse assunto no próximo mês.

Até lá!