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31/08/2021
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Ademir Calegari
Mix de plantas de cobertura

O uso de adubos verdes ou plantas de cobertura de solo entre as ruas do cafeeiro tende a promover, pela própria dinâmica do sistema solo-água-planta, uma maior inter-relação entre fluxo de água, oxigenação, temperatura, fauna e flora do solo, e ciclagem de nutrientes, sendo difícil atribuir às melhorias a um fator isoladamente. Assim, o uso de plantas de cobertura, além de diminuir riscos de erosão, aumenta a agregação das partículas, incrementa a biologia (Balota et al.,2014) e promove efeitos benéficos na fertilidade do solo através do aumento na ciclagem de nutrientes, aumento do potencial de sequestro dos teores de carbono orgânico do solo (COS) (Bolliger et al., 2006; Florentin et al., 2010), além de menor risco de ocorrência de pragar e doenças, contribuindo assim para o aumento do potencial produtivo das diferentes culturas, entre elas a cultura do cafeeiro.  

Diversos são os efeitos do uso de plantas de cobertura nos atributos físicos (água, temperatura, densidade e porosidade), químicos (nutrientes e matéria orgânica) e biológicos do solo (macro, meso e microorganismos).

Os resíduos orgânicos que protegerão a superfície do solo ao serem adicionados, em um primeiro momento, irão fazer parte da biomassa microbiana, passando em seguida para a fração lábil da matéria orgânica do solo e finalmente para a formação de complexos polimerizados, estabilidade física e/ou química nos estágios mais avançados do carbono.  Além de ser um componente da fase sólida, o húmus, como colóide orgânico, apresenta efeitos muito valiosos na melhoria dos atributos físicos, químicos, físico-químicos e biológicos do solo (Calegari, 2014; Calegari et al., 2020).

Além de poder ser utilizado uma planta de cobertura isolada, os resultados de pesquisa e práticas de diversos anos junto aos produtores e cafeicultores têm mostrado que uma alternativa bastante eficiente é o consórcio delas, os chamados mix. Neste consórcio pode-se incluir de 2 a 4 ou até 6 ou 10 plantas de diferentes espécies e/ou famílias. Elas são semeadas simultaneamente e irão proporcionar uma maior biodiversidade e, através dos efeitos diferenciados de cada espécie no solo, contribuem para um maior equilíbrio ambiental com resultados favoráveis ao solo e aos rendimentos das culturas posteriores. Estima-se um ganho de produtividade de até 20% com o uso dessa tecnologia e um equilíbrio do solo. Essas plantas existem há séculos, porém eram usadas no cultivo individual. Segundo Ademir Calegari (2016), existem seis variedades promissoras para o mix que são escolhidas conforme o diagnóstico do solo. Para realizar a semeadura desses mix, os produtores rurais podem jogar as plantas através de um avião antes da colheita.

Geralmente, o consórcio pode ser feito de gramíneas + leguminosas ou gramíneas + crucíferas, polygonaceas ou ainda misturar três ou mais espécies, que além de melhorar os atributos físicos do solo (agregação, estruturação), produzem resíduos com relação C/N intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do nitrogênio. Ao longo dos anos, através da adição de resíduos e pela ação da diversidade da microbiota, também há um maior equilíbrio e consequente maior acúmulo de carbono no perfil do solo.  “No caso de cultivos singulares, a decomposição individual das leguminosas resultará em maiores riscos de perdas de N (lixiviação, volatilização) se comparado às gramíneas. Quando os resíduos de gramíneas são mesclados com resíduos de leguminosas, normalmente não há problemas com imobilização do nitrogênio e a mineralização paulatina favorecerá a disponibilidade e absorção pelas plantas. Além de favorecer o incremento da microbiota, enzimas produzidas pelos microrganismos e plantas, que junto aos resíduos, aminoácidos, fungos micorrízicos, irão contribuir para o incremento do húmus do solo (ácidos fúlvicos, ácidos húmicos e humina) (Calegari, 2014; Wütke et al., 2014).

Para a adequada escolha ou definição de um determinado mix de plantas antes do plantio do cafeeiro, ou intermediário ao cafeeiro adulto em produção, o produtor deve fazer um rigoroso diagnóstico. “Deve ser checado e monitorado a presença de espécies de nematóides e populações, ocorrências de doenças radiculares, compactação do solo, ocorrência de plantas daninhas etc. (Calegari, Donizeti Carlos, 2014), bem como o período disponível para a implantação e desenvolvimento dessas espécies, além da definição do manejo de forma a não prejudicar ou atrapalhar o desenvolvimento da cultura do cafeeiro.

Resultados obtidos por Fernandes et al. (2019), Calegari, (2018b);  na Fazenda da Associação de  Rotalária de Café de Araguari (ACA), em Araguari/MG, durante um trabalho de pesquisa de longa duração utilizando o mix de plantas entre as ruas do cafeeiro: Trigo mourisco + Crotalaria breviflora + Crotalaria ochroleuca + Mucuna anã + Guandu anão + Milheto ADR- 300 + Feijão caupi,  mostraram um importante aspecto das plantas de cobertura associadas ao cafeeiro (na entrelinha), que é a elevada produção de biomassa. Os resultados mostraram as comparações entre os diferentes tratamentos - na ausência de plantas de cobertura, a produção de  rotalárias entrelinha do café não ultrapassa 1,33 ton/ha de matéria seca, já com a introdução de plantas de cobertura nas entrelinhas, a produção de biomassa aumentou consideravelmente, desde 2,45 até 4,36 ton/ha.

Os resultados quanto à produtividade do cafeeiro mostraram que na área testemunha com adubação química normal recomendada  alcançou 44,2 scs de café seco beneficiado por ha, enquanto no tratamento onde houve a adubação química normal + o Mix de plantas acima se alcançou 51,6 scs de café beneficiado por hectare (Fernandes et al., 2019). Concluiu-se nesse trabalho que:

• Com plantas de cobertura, as produtividades foram maiores em todas as situações de adubação comparando-se com os tratamentos sem plantas na entrelinha;

• A inclusão de plantas de cobertura no rotalá de produção do café no Cerrado de Minas Gerais é promissora, pois permite o aumento da biomassa produzida, além de sinalizar ganhos potenciais em produtividade do cafeeiro ao longo de várias safras;

• São necessárias mais safras para conclusões mais concretas.

As diferentes combinações de plantas ou mix contribuem para o aumento da biodiversidade, além de proporcionarem um maior número de inimigos naturais de pragas e doenças (nematoides), o que irá diminuir os riscos e ocorrências indesejáveis no cafeeiro. “Também as misturas de diversas espécies, tais como: milheto +  rotalárias, aveia + centeio + trigo mourisco e outras diversas, tem proporcionado ótimos resultados em termos de diminuição de fonte de inóculos de doenças radiculares e baixando populações de nematoides (lesões, galhas e cisto). Quando utilizadas juntamente com produtos/ativos biológicos promovem uma maior ativação biológica e, normalmente, ocorre um sinergismo, ou seja, as diferentes plantas têm habilidade diferenciada quanto à ciclagem de nutrientes e seus sistemas radiculares atingem profundidades diferenciadas do solo, causando diferentes efeitos nos microorganismos do solo e promovendo efeitos diversos nas diferentes camadas do perfil do solo” (Calegari, et al., 2020).

De acordo com as condições especificas acima citadas, diferentes combinações de plantas de cobertura poderão ser implantadas:


Indicação de consórcio de plantas:


Indicação de como plantar na entrelinha do cafeeiro:


Autores: Prof. Dr. Ademir Calegari e Dra Paula Santini

Apoio:

.

Referências:

BALOTA, ELCIO L., CALEGARI, ADEMIR, NAKATANI, ANDRE S., COYNE, MARK, S. 2014. Benefits of winter cover crops and no-tillage for microbial parameters in a Brazilian Oxisol: A long-term study. Agriculture, Ecosystems and Environment. 197: 31-40.

BOLLIGER, A.; MAGID, J.; AMADO, T.J.C.; SKÓRA NETO, F.; SANTOS RIBEIRO, M. F.;  CALEGARI, A.; RALISCH, R.; AND NEERGAARD, A.  (2006). Taking Stock of the Brazilian "Zero Till Revolution": A Review of Landmark Research and Farmers' Practice . REVIEW ARTICLE. ADVANCES IN AGRONOMY. DOI: 10.1016/S0065-2113(06)91002-5. Vol. 91, Pages 47-110.

CALEGARI, A., ARAUJO, A.G, TIECHER,T., BARTZ, M.L.C., LANILLO, R.F., REINHEIMER, D. S., CAPANDEGUY, F., ZAMORA, J.H.,  BENITES, J.R. J., MORIYA, K., DABALÁ, L., CUBILLA, L.E., CUBILLA, M. M., CARBALLAL, M., TRUJILLO, R., PEIRETTI, R., DERPSCH, R., MIGUEL, S., FRIEDRICH, T. (2020). No-Till Farming Systems for Sustainable Agriculture in South America. In “Yash P. Dang, Ram C. Dalal, Neal W. Menzies. Editors. No-till Farming Systems for Sustainable Agriculture - Challenges and Opportunities”. P. 533-564. ISBN 978-3-030-46408-0 ISBN 978-3-030-46409-7 (eBook) https://doi.org/10.1007/978-3-030-46409-7. Australia. © Springer Nature Switzerland AG 2020.

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WüTKE, E. B.; CALEGARI, A.; WILDNER, L. DO P. Espécies de adubos verdes e plantas de cobertura e recomendações para uso. In: LIMA FILHO, O. F. de; AMBROSANO, E. J.; ROSSI, F.; CARLOS, J. A. D. (Ed.). Adubação verde e plantas de cobertura no Brasil: fundamentos e prática. Brasília, DF: Embrapa, 2014. v. 1 p. 59-168

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